O que faltou dizer de Karol Conká, por Hanne Brandenburg

Texto recebido em 24/02/2021

Com uma trajetória de vida semelhante ao Nego Di, Karoline dos Santos Oliveira ou Karol Conká, nome que adotou após se tornar artista, é mais uma entre milhares de mulheres que por ter nascido negra e pobre não escaparia de sofrer preconceitos na sociedade, que ficou famosa, no seu caso como cantora de rap conhecida até internacionalmente e, com isso, conseguiu se colocar em uma posição que lhe trouxe conforto material e privilégios de ser aceita e vista como ser humano que é. Apesar de ter alcançado fama e dinheiro, sua personalidade, marcada por um temperamento onde se destacam a prepotência, a arrogância, a soberba e o deboche, foram potencializados por uma criação de menina mimada, com excessos de liberdade em suas ações que a tornaram egocêntrica achando que o mundo teria que girar em torno de si mesma. Precisou que aceitasse participar de um reality show para que seus fãs, seguidores e até quem não a conhecia pudessem observá-la e avaliar seu comportamento de forma clara e escancarada.

Dentre as surpresas ocorridas no BBB21, destaco o fato de ter em seu elenco tantos participantes com características de personalidades semelhantes ao de Karol, fazendo com que logo se formasse um grupo que se identificava pelas afinidades e concordância de atitudes, sendo que, algo inédito também ocorreu que foi a rejeição em massa, do público por essas pessoas, que de forma implacável está eliminando um a um com índices de rejeições jamais vistos na história do reality global. 

Como tudo na vida tem vantagens e desvantagens, apesar de nos proporcionar momentos de muita indignação e repulsa, esse grupo também será visto e lembrado por todos aqueles, principalmente os famosos convidados ou subcelebridades que aceitem participar desse tipo de programa, onde a exposição enorme de seus comportamentos se impõem e se sobressaem ao simples fato de alavancarem suas carreiras, que terão de pensar muito se realmente valerá a pena se mostrar verdadeiramente para seu público que só lhes conhecem como artistas e não como pessoas. De repente até podem pensar na estratégia de se esconderem e se policiarem para não sofrer o mesmo impacto, porem jamais conseguirão essa façanha por muito tempo, pois uma hora o eu fala mais alto e ninguém consegue mudar seu modo de ser em função de uma determinada situação que se lhes apresente no momento, por um período tão longo como é em qualquer reality que envolva confinamento entre pessoas de personalidades diversas. Com essa constatação, creio que, aí vem o lado bom da história, teremos menos pessoas maléficas no elenco e mais participantes que tenham espírito sim de competição para serem campeões sem precisarem de tantos artifícios maldosos pra cima de seus adversários. Ah! mas toda novela, filme ou até no reality também precisamos ter os vilões para se contraporem aos mocinhos, sim, concordo, porém um vilão não necessariamente precisa ser tão mau e nem um mocinho tão imbecil para que a coisa funcione. Quantos personagens marcantes em sua vilanias já passaram nesses quase 20 anos de reality, uns até se sagraram campeões e que eram rejeitados por uma parcela do público, mas que conseguiram conquistar uma maioria suficiente para lhes dar o prêmio máximo, e nem também que os mocinhos sejam, muitas vezes, taxados de bananas, frouxos, bobões, plantas e descartados por não gostarem de confrontos que envolvam discussões, as famosas tretas. Se o BBB é um jogo, adversários sim, inimigos nunca!

O que precisamos encontrar quando nos dispomos a assistir um programa como o BBB é entretenimento, diversão e até uma disputa, mas um duelo limpo, onde deve prevalecer o espírito competitivo, o bom senso e acima de tudo o respeito entre todos. Torcidas contra e a favor desse ou daquele participante, pensamentos divergentes em defesas por quem nos identificamos, isso sempre irá existir e faz parte do jogo, o que não pode se sobressair são atitudes que demonstram personalidades duvidosas,  que nos fazem mal observar, embora saibamos que assim caminha a humanidade, com pessoas de má índole em nossa sociedade, mas que não temos nenhuma obrigação de conviver, serão facilmente repelidas de nosso círculo de amizades, ao passo que no programa isso se impõe aos nossos olhos e enquanto o participante não é eliminado, sentimos essa sensação de desejo para que isso aconteça logo, e o espírito de vingança implacável das redes sociais e até do público do sofá, se torna inevitável.

Outro detalhe que vale ressaltar por ocasião da participação da Karol Conká no BBB21 e suas vilanias exacerbadas, foi o aparato moral que a rede Globo deu a ela como proteção pessoal dos ataques que poderia vir a sofrer após sua eliminação. Ouvi em um programa de fofocas da tv que além de seguranças ela teria um suporte com profissionais em psicologia de plantão 24h no hotel onde estivesse hospedada e também que, diferente dos demais participantes que são liberados para se deslocarem para suas cidades após cumprirem uma agenda de participações em programas, ela ficaria no Rio de Janeiro, custeada pela emissora por um determinado tempo, suficiente para que os ânimos acirrados se acalmassem e, caso ela resolvesse abrir mão desse aparato e decidisse voltar pra São Paulo onde mora ou até para sua cidade natal, Curitiba, teria que assinar um termo de responsabilidade irrevogável isentando a Globo por qualquer dano que pudesse vir a sofrer. Esse também foi mais um fato inédito ocorrido apenas nessa edição, e que só reforça algo que venho dizendo há muito tempo que é a diferença entre existir no elenco pessoas famosas, com carreiras consolidadas e que são convidadas a participarem do reality, com pessoas totalmente anônimas que, por mais que tivessem características de personalidade maldosa e que também fosse tão massacrada nas redes sociais, não receberiam da emissora tamanho aparato de segurança, que se coloca como responsável direta pelos prejuízos causados a artista que inclui danos financeiros e morais, o que só reforça minha visão de achar injusta uma disputa onde existem pessoas que terão tratamento diferenciado dentro ou fora da competição.

Enfim, se as sequelas deixadas por sua trajetória no BBB servirão para que a Karol Conká se reinvente como ser humano, afinal todos nós estamos nessa vida em constante processo de evolução, isso só o tempo dirá. De minha parte torço que sim, sempre vou preferir que as pessoas realmente encontrem os caminhos para uma vida de paz, harmonia e, principalmente amor ao próximo, da mesma forma como se relaciona com quem faz parte do seu círculo familiar. A compreensão de que todos temos defeitos e qualidades e que merecemos respeito por sermos criações de Deus de forma igualitária, o que  nos diferencia ou nos afasta uns dos outros podem e devem ser repensados e vividos de forma a nunca passarmos por situações de linchamentos ou reprovações em massa, mesmo que sejam por pessoas que não procuram sequer se colocar no lugar do outro, ou que  predomine o julgamento virtual que nada tem de humano ou solidário, apenas um posicionamento individual de cada um. 

Um abraço a todos!

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