Texto recebido em 11/12/2019
Foi com alto nível gastronômico que o MasterChef - A Revanche chegou à semifinal. Os três candidatos restantes provaram mais uma vez que o título de amador é etapa vencida em suas vidas e proporcionaram uma disputa de qualidade rara de se ver. Por um lado, Fernando Kawasaki chegou até aqui de maneira impecável, sem passar por uma Prova de Eliminação sequer e sem todo aquele ar de arrogância visto na primeira temporada. É como os jurados disseram ao final do episódio, “selecionamos os mais humildes”. Por outro lado, Estefano e Vitor Bourguignon foram os maiores campeões nos duelos eliminatórios e, da mesma maneira, ambos trajados de humildade e generosidade, virtudes de quem sabe/soube ouvir e aprender com quem está acima e sabe do que está falando. Não por acaso, algumas figurinhas mais competitivas e despreparadas abandonaram cedo a disputa.
O primeiro desafio da noite não poderia ser menos trabalhoso para uma semifinal, lidar com os agitos de uma cozinha profissional é para que esses jovens se prepararam, então, Prova de Serviço neles! Dois menus personalizados pelos jurados deveriam ser reproduzidos para servirem a nove ex-MasterChef Profissionais. A parte boa ficou para nós que pudemos matar as saudades de alguns rostos muito queridos. Os convidados apenas representaram clientes, a avaliação estava mesmo por conta dos chefs. Os semifinalistas contaram com uma hora para fazer o mise en place e duas horas para o preparo das receitas e a entrega dos pratos, com ciência de que poderiam trabalhar juntos mas que seriam avaliados individualmente.
Todavia, a perspicácia passou longe do espírito competitivo dos nossos cozinheiros, cada um pensou na praça em que melhor se adequava, houve consenso quase imediato nas escolhas e foram em frente. Apenas mais tarde, diante dos resultados da prova, é que a noção esportiva iria ribombar dolorosamente em algumas cabeças. Estefano é o único, talvez do time completo da temporada, que não foge das sobremesas, ele conhece o pavor alheio pela confeitaria e é especialista na área, logo, ficou plenamente satisfeito na praça dos doces. As entradas e pratos principais foram distribuídos com maior cautela e insistência entre Fernando e Vitor, por fim, tudo parecia em perfeita ordem no início da execução.
Ninguém está isento de falhas, nem que a culpa recaia sobre os eletrodomésticos. Estefano, visivelmente, obtinha o melhor desempenho, sempre organizado e centrado, refém somente dos pontos de receita que, por vezes, teimam em chegar. Já seus oponentes, uma olhada nas respectivas bancadas era o bastante para identificar a falta de planejamento. Quesito, aliás, notado pelos jurados nos três participantes a certa altura da prova, quando as receitas estavam próximas de serem finalizadas e ninguém se preocupava em organizar um espaço para o empratamento e expedição das demandas e nem com a importante escolha das louças.
Mas tudo isso foi detalhe, pois todos os pedidos foram entregues, a execução não passou por desesperos tão angustiantes quanto o suflê de Estefano que nunca alcançava o ponto ideal. O tempo e o forno foram os únicos empecilhos para um desempenho brilhante do concorrente. Bem, falando em detalhes que fogem do controle, o convidado Willian recebeu a visita nada vegetariana de uma formiga no seu ajo blanco feito por Bourguignon... Nada que desabone, todo mundo entende, acontece nos melhores restaurantes, rsrs. Para além desses pormenores, Fernando Kawasaki foi quem mais aparentou nervosismo, necessitando de maiores reforços dos colegas.
Bourguignon teve muitas esperanças de que sua conduta estivesse equiparada com a de Estefano e pudesse de tomar posse da vaga no mezanino para o primeiro finalista. Sem chances. Foi Estefano quem beirou a perfeição segundo as avaliações dos chefs, por sua performance no mise en place e resultado final dos pratos, e garantiu o posto sob um discurso rasgado de elogios por Carosella. Foi aí que Fernando remoeu a cachola ao notar que faltou com a estratégia de tirar as sobremesas das mãos especialistas do adversário. Tarde demais! Agora, restava competir contra o oponente de sua própria altura culinária. E foi o que vimos.
A Prova de Eliminação contemplou o clima festivo das vésperas da final da temporada e do fim de ano, os duelistas tinham um verdadeiro banquete para planejar e servir dentro de 2h30min. Em sua primeira prova eliminatória, Fernando deveria entregar um pernil de cordeiro recheado com um molho e três acompanhamentos obrigatórios diferentes melhores que os de Bourguignon. Pensando em organizar as compras, ele foca seu menu no Oriente Médio e parte para a briga. Bourguignon sentia a força do colega e, sabiamente, deixou de lado a necessidade de se comparar e competir para superar o amigo e fixou a mente nos próprios afazeres, assim adquiriu o controle emocional que faltou a Fernando durante todo o embate. Tanto que, por ironia, Bourguignon não cortou um dedo sequer, já Kawasaki... Faltou pouco para cortar todos.
Fernando ainda tomou uma chamada de Paola por tentar abrir uma lata com uma faca, tamanho desespero. O moço ainda lembrou de retirar o barbante do cordeiro para não repetir erros que cometera ao longo da temporada, como deixar passar pedaços de plástico e papel laminado nos pratos para os chefs. Se esforçou, apesar do nervoso, suadeira e clara torcida de Estefano para Vitor, e valeu a pena, pois a decisão foi dura para os jurados, que, para a felicidade geral, lidaram com um embate estupendo digno de final de temporada. Foram muito pouco os erros cometidos e muitos elogios tecidos aos competidores. Para os chefs, os acompanhamentos foram determinantes para solucionar os impasses avaliativos, pois Fernando excedeu os limites de acidez no tabule e baba ganoush. Vitor conferiu melhor sabor ao conjunto da obra com toda delicadeza que a gastronomia pede. Fernando Kawasaki pôde sair de cabeça erguida por sua trajetória e final brilhantes e retorno ao MasterChef com humildade e simplicidade.
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