Um jovem agora de 20 anos, estudante de Biologia, vendedor de picolé, da comunidade da Rocinha. Foi assim que se apresentou Danrley. Duas vezes líder e uma vez monstro. Por que Danrley foi tão atacado e estigmatizado se o comportamento dele não teve um ruído de ofensa aos outros? Foi tímido no começo, pois se sentia, a meu ver, intimidado de ver tanta gente “bonita”, loira, de olhos claros, tudo aquilo que o brasileiro enxerga como belo.
Fazendo uma digressão. O brasileiro é assim: vê alguém de olhos claros e diz: que olhos lindos! Na verdade, são olhos verdes ou azuis (jamais elogiam olhos pretos ou castanhos). A mesma coisa com os cabelos lisos naturais. Que cabelos lindos, macios etc.! Ou seja, o conceito de belo está associado ao branco, sobretudo, loiro e de olhos claros. É cultural. Basta contar quantos negros, mulatos, índios, mamelucos, caboclos etc. estão nas propagandas, nas novelas de tevê, nos desfiles de moda, nas capas de revistas ou eleitos em concursos de beleza, apesar de serem mais de 50% da população. Esta é a realidade da falsa democracia racial brasileira. O racismo velado hoje, a meu ver, está escancarado no Brasil. Que o digam a polícia, os delegados que associam pessoas de cor escura à bandidagem, melhor, que o digam as redes sociais, os estádios de futebol, com suas fúrias racistas. Basta também ver a população carcerária. O importante é saber entender por que essa realidade é assim.
Fiz este preâmbulo, para poder entender o porquê de certas pessoas e torcidas tratarem de forma tão agressiva essa classe social, de forma tão odiosa, raivosa, desrespeitosa, a ponto de a gente desconfiar de um certo racismo “inconsciente”, velado de discursos amenizados, relativizados. A meu ver, isso se traduz na ausência de um conhecimento histórico profundo sobre a realidade da escravidão no Brasil e no mundo e suas consequências na atualidade. Os negros no mundo são a etnia mais humilhada, vilipendiada, da história da humanidade. Foram os grupos de extermínio, como a Ku Klux Klan nos Estados Unidos e o regime do Apartheid na África do Sul sob dominação branca inglesa, que expressaram de forma violenta, essa realidade histórica de opressão e repressão dos negros no mundo. Ainda hoje há movimentos de supremacia racial branca na Europa e Estados Unidos, cujo lema é recuperar sua identidade étnica branca, valores tradicionais da família ariana e “cristã”; enfim, são contra imigrantes, direitos iguais para negros, globalização total; são também nacionalistas, armamentistas, resvalando para xenofobia, homofobia e até misoginia.
Mas voltando ao Danrley e o grupo gaiola. O que percebi nesta turma foi uma certa identificação de suas histórias de vidas tristes, a saber, a opressão social sobre suas cabeças de pobre, negro e homossexual. Essas são as três principais características da turma da gaiola. Estes são também seus pontos de aproximação, união e identificação de classe e gênero. Criou uma autodefesa de sua identidade étnica, na desconstrução de falas racistas e preconceituosas. Danrley, Elana, Gabi e Rodrigo construíram esses laços de união para se defenderem no jogo. Rízia, muito menos. Acolheram o Alan loiro branco, mas de alma negra, no sentido positivo deste termo.
O grupo foi acusado de frear o desenvolvimento de um enredo BBB mais animador para o público, quando criaram um ambiente de “paz e amor” na casa, evitando barracos, brigas, controlando suas emoções para não magoar o outro, justamente porque o grupo gaiola deve ter sofrido todos os tipos de humilhação social aqui fora. Danrley tentou se desvencilhar um pouco deste jogo “paz e amor” para tentar se inserir no jogo como jogador, embora Rodrigo o aconselhava a não entrar nessa lógica da treta que o programa estimula. Acho que Danrley estava certo quando se colocou de vilão naquele jogo, para mostrar que ele não era um amigão para sempre, mas uma pessoa que lutava para ter seu milhão e meio. E é compreensível isso, porque a vida de pobreza e miséria no Brasil é agressiva ao SER humano, vivendo num ambiente em que a hostilidade e a violência policial e bandida o rodeiam; tentar sair deste locus bélico, talvez, seja hoje o desejo imediato dos favelados.
E Danrley não foge à regra. Não que ele queira dar às costas a seu passado, a sua comunidade, mas porque queira dar uma vida melhor aos seus familiares. Viver numa zona de perigo constante é suscitar constantemente o medo de ser morto.
O Danrley é aquele garoto ainda adolescente que brinca, zoa, dança, ri, faz reflexão da vida e crítica social. Nunca magoou ninguém na casa com palavras preconceituosas, racistas e classistas, porque sofreu na pele isso. Duvido que alguém do gaiola debochou da voz de Paula. Acho que o Maycon sim. Seu forte era curtir as festas, os shows e ter se relacionado com todos no maior respeito, sem falar mal de ninguém pelas costas, a não ser do jogo dos adversários, natural. Chorou com Rodrigo ao falar da família, do pai, da vida pós BBB, se abraçaram e foi adotado como filho pelo professor de sociologia. Uma relação verdadeira, porque o que os unia era a suas condições de vida. Danrley, Elana e Rodrigo abraçaram Tereza nos momentos de sua solidão no jogo. Danrley tem estes sentimentos de solidariedade, de acolhimento e de fraternidade. Coisa já quase inexistente nas redes sociais onde imperam a agressividade, a Fake News e o ódio de classe e político.
Os quase 62% de votos em Danrley têm um significado muito negativo, a meu ver, ou seja, a sociedade não tem solidariedade com os militantes, os negros, os pobres deste país. E sabe por que? Porque grande parte da sociedade não se indigna com a nossa pobreza e miséria social (de outros países sim). Não se indigna por existir favelas, esgotos a céu aberto, gente morando nas ruas, crianças fumando craque ou se drogando. Porque tornou-se fria, indiferente, com exceção, ao beijo e abraço gay e lésbico nas ruas. Isso causa mais indignação na população hétero-machista do que ver a miséria nas ruas das grandes cidades.
Mas Danrley tem uma riqueza que o milhão e meio não compra, a sua consciência política, de classe, seu saber que o libertou da ignorância humana, ao estudar num dos melhores colégios do Brasil, Pedro II, federal, onde só entra através de testes, concurso. E de lá seguiu para Universidade para ser um grande biólogo, quem sabe, um professor universitário, hoje tão perseguido e humilhado por personas do Governo Federal. Que este garoto-adulto tenha um futuro promissor, não de riqueza material, mas de riqueza intelectual, porque a miséria intelectual no Brasil está crescente, sobretudo, em redes sociais em que todo mundo se acha um sabichão. Viva Danrley! Viva os militantes da luta contra a opressão!
Fazendo uma digressão. O brasileiro é assim: vê alguém de olhos claros e diz: que olhos lindos! Na verdade, são olhos verdes ou azuis (jamais elogiam olhos pretos ou castanhos). A mesma coisa com os cabelos lisos naturais. Que cabelos lindos, macios etc.! Ou seja, o conceito de belo está associado ao branco, sobretudo, loiro e de olhos claros. É cultural. Basta contar quantos negros, mulatos, índios, mamelucos, caboclos etc. estão nas propagandas, nas novelas de tevê, nos desfiles de moda, nas capas de revistas ou eleitos em concursos de beleza, apesar de serem mais de 50% da população. Esta é a realidade da falsa democracia racial brasileira. O racismo velado hoje, a meu ver, está escancarado no Brasil. Que o digam a polícia, os delegados que associam pessoas de cor escura à bandidagem, melhor, que o digam as redes sociais, os estádios de futebol, com suas fúrias racistas. Basta também ver a população carcerária. O importante é saber entender por que essa realidade é assim.
Fiz este preâmbulo, para poder entender o porquê de certas pessoas e torcidas tratarem de forma tão agressiva essa classe social, de forma tão odiosa, raivosa, desrespeitosa, a ponto de a gente desconfiar de um certo racismo “inconsciente”, velado de discursos amenizados, relativizados. A meu ver, isso se traduz na ausência de um conhecimento histórico profundo sobre a realidade da escravidão no Brasil e no mundo e suas consequências na atualidade. Os negros no mundo são a etnia mais humilhada, vilipendiada, da história da humanidade. Foram os grupos de extermínio, como a Ku Klux Klan nos Estados Unidos e o regime do Apartheid na África do Sul sob dominação branca inglesa, que expressaram de forma violenta, essa realidade histórica de opressão e repressão dos negros no mundo. Ainda hoje há movimentos de supremacia racial branca na Europa e Estados Unidos, cujo lema é recuperar sua identidade étnica branca, valores tradicionais da família ariana e “cristã”; enfim, são contra imigrantes, direitos iguais para negros, globalização total; são também nacionalistas, armamentistas, resvalando para xenofobia, homofobia e até misoginia.
Mas voltando ao Danrley e o grupo gaiola. O que percebi nesta turma foi uma certa identificação de suas histórias de vidas tristes, a saber, a opressão social sobre suas cabeças de pobre, negro e homossexual. Essas são as três principais características da turma da gaiola. Estes são também seus pontos de aproximação, união e identificação de classe e gênero. Criou uma autodefesa de sua identidade étnica, na desconstrução de falas racistas e preconceituosas. Danrley, Elana, Gabi e Rodrigo construíram esses laços de união para se defenderem no jogo. Rízia, muito menos. Acolheram o Alan loiro branco, mas de alma negra, no sentido positivo deste termo.
O grupo foi acusado de frear o desenvolvimento de um enredo BBB mais animador para o público, quando criaram um ambiente de “paz e amor” na casa, evitando barracos, brigas, controlando suas emoções para não magoar o outro, justamente porque o grupo gaiola deve ter sofrido todos os tipos de humilhação social aqui fora. Danrley tentou se desvencilhar um pouco deste jogo “paz e amor” para tentar se inserir no jogo como jogador, embora Rodrigo o aconselhava a não entrar nessa lógica da treta que o programa estimula. Acho que Danrley estava certo quando se colocou de vilão naquele jogo, para mostrar que ele não era um amigão para sempre, mas uma pessoa que lutava para ter seu milhão e meio. E é compreensível isso, porque a vida de pobreza e miséria no Brasil é agressiva ao SER humano, vivendo num ambiente em que a hostilidade e a violência policial e bandida o rodeiam; tentar sair deste locus bélico, talvez, seja hoje o desejo imediato dos favelados.
E Danrley não foge à regra. Não que ele queira dar às costas a seu passado, a sua comunidade, mas porque queira dar uma vida melhor aos seus familiares. Viver numa zona de perigo constante é suscitar constantemente o medo de ser morto.
O Danrley é aquele garoto ainda adolescente que brinca, zoa, dança, ri, faz reflexão da vida e crítica social. Nunca magoou ninguém na casa com palavras preconceituosas, racistas e classistas, porque sofreu na pele isso. Duvido que alguém do gaiola debochou da voz de Paula. Acho que o Maycon sim. Seu forte era curtir as festas, os shows e ter se relacionado com todos no maior respeito, sem falar mal de ninguém pelas costas, a não ser do jogo dos adversários, natural. Chorou com Rodrigo ao falar da família, do pai, da vida pós BBB, se abraçaram e foi adotado como filho pelo professor de sociologia. Uma relação verdadeira, porque o que os unia era a suas condições de vida. Danrley, Elana e Rodrigo abraçaram Tereza nos momentos de sua solidão no jogo. Danrley tem estes sentimentos de solidariedade, de acolhimento e de fraternidade. Coisa já quase inexistente nas redes sociais onde imperam a agressividade, a Fake News e o ódio de classe e político.
Os quase 62% de votos em Danrley têm um significado muito negativo, a meu ver, ou seja, a sociedade não tem solidariedade com os militantes, os negros, os pobres deste país. E sabe por que? Porque grande parte da sociedade não se indigna com a nossa pobreza e miséria social (de outros países sim). Não se indigna por existir favelas, esgotos a céu aberto, gente morando nas ruas, crianças fumando craque ou se drogando. Porque tornou-se fria, indiferente, com exceção, ao beijo e abraço gay e lésbico nas ruas. Isso causa mais indignação na população hétero-machista do que ver a miséria nas ruas das grandes cidades.
Mas Danrley tem uma riqueza que o milhão e meio não compra, a sua consciência política, de classe, seu saber que o libertou da ignorância humana, ao estudar num dos melhores colégios do Brasil, Pedro II, federal, onde só entra através de testes, concurso. E de lá seguiu para Universidade para ser um grande biólogo, quem sabe, um professor universitário, hoje tão perseguido e humilhado por personas do Governo Federal. Que este garoto-adulto tenha um futuro promissor, não de riqueza material, mas de riqueza intelectual, porque a miséria intelectual no Brasil está crescente, sobretudo, em redes sociais em que todo mundo se acha um sabichão. Viva Danrley! Viva os militantes da luta contra a opressão!