“Vai, vai, vai começar a brincadeira
Tem charanga tocando a noite inteira
Vem, vem, vem ver o circo de verdade
Tem, tem, tem picadeiro de qualidade”...

A festa circo não poderia ter sido mais temática e ilustrativa, sobre os rumos desse picadeiro chamado BBB.

Entre o trapezista, Zezinho do Trombone, palhaço, domador, bailarina... sem a purpurina das primeiras semanas, a cada desafio eles vão revelando suas idiossincrasias, contradições e... seu lado oculto... antes que o espetáculo termine.

Só não vê quem não quer ou é cego. Azar daqueles que se deixaram ofuscar, logo no início, pelos encantos e histórias folhetinescas de alguns, abafando com aplausos o desenrolar de narrativas verdadeiramente interessantes, feita de pequenos gestos e grandes performances.

A última prova do líder foi bastante reveladora nesse sentido. A começar pela divisão inicial dos grupos.

Ali estava a atual configuração da divisão na casa, com Paula começando de um lado e depois trocando com o Viegas, terminando em outro, para rapidamente se arrepender da escolha feita. 

E o arrependimento se confirmou. Ana Clara, Gleici e Wagner não sabem trabalhar em equipe. Fato!!! Cada um com diferente grau de individualidade, egocentrismo e soberba, não sabem partilhar, se organizar e unir forças. São aqueles que esperam ganhar com o erro do outro. Paula era um peixe fora d’água dentre eles.

Basta analisar o desempenho e coordenação de Jéssica, Kaysar, Viegas e Breno. Um não atrapalhava, batia cabeça ou trombava no outro. Em pouco tempo estavam repartindo as tarefas, colocando os objetos no bagageiro com planejamento, concentração e sem alarido. Cada um era responsável por determinadas peças, cabendo também a Jéssica o papel de apertar o botão a cada rodada. Trabalhar em equipe é isso. Cooperação, foco e esforço coletivo para cumprir uma tarefa. 

Aliás, eles gabaritaram nesse quesito e em outros mais. Que show deram esses quatro!!!

Não há quem tenha deixado de reconhecer o fair play do Kaysar ao devolver a mala voadora ao grupo adversário ou deixado de se impactar com a atitude do Breno, esgotado fisicamente, ao permanecer no carro por saber que esse prêmio faria diferença e era importante para o Viegas. Por outro lado, a atitude do mesmo Viegas para com o Breno, tranquilizando-o quanto a uma possível desistência, caso ele não suportasse mais. Isso é ter nobreza de caráter. Isso é saber fazer o espetáculo. Isso é o que queremos ver, até por estarmos carentes de gestos como esses no dia-a-dia.

Algo que grita diante da reação do grupo eliminado, com Gleici e Ana Clara responsabilizando a Paula pela eliminação. Oi???? Péra lá!!! Quem colocou a mala atravessada e no lugar errado pelo que se viu foi a Gleici. E a outra é a culpada??? O que esta poderia fazer quando integrantes do seu grupo não ouvem, impõem??? Adiantaria a Paula tentar organizar os objetos??? As outras duas deixariam??? Afinal, em seu ego inflado, elas fazem “tudo certo”, errados são sempre os outros. E o mais feio talvez tenha sido a fala do Ayrton para a filha: “Mas continua tudo igual, né?. Todo mundo junto!”. Aiaiai... Quer dizer que o importante é Paula votando com eles??? E onde estão aquelas pessoas que não “combinam voto”, são puras de coração e imaculáveis?!?

Pois é....

Com relação à prova do líder, mais um adendo. Não dá pra falar dessa prova, sem mencionar a incrível capacidade de superação, determinação, sintonia, leveza e força interior da Jéssica e do Kaysar. Em especial, da Jéssica, que na etapa final teve que carregar os objetos mais pesados e que estavam mais distantes. Quase trinta horas na prova de resistência!!! Que desempenho fantástico desses dois no picadeiro!!!

Por sua vez, a grandeza de espírito que se viu entre os dois se contrapôs ao sentimento baixo e mesquinho do Wagner. Alguém me diga: Quem após ver Jéssica deixar a prova fisicamente esgotada e o Breno quase sair com soro na veia, teria coragem de colocar os dois para cumprir o castigo do monstro??? Quem??? Só alguém muito frio, desumano e com pouca empatia pelo próximo. Pois é... o Wagner mais uma vez não decepcionou. Apesar de haver outros mais descansados, que sabidamente poderia ter indicado, optou por aqueles que estavam fatigados e debilitados. Sem palavras!!!

“Corre, corre, minha gente que é preciso ser esperto 

Quem quiser que vá na frente, vê melhor quem vê de perto”...

Ver de perto é o que está faltando para boa parte do público. Logo na primeira semana muitos se deixaram seduzir e envolver pela história externa de alguns participantes, em especial do Kaysar, Gleici, Ayrton e Ana Clara. Algo até certo ponto injusto com os demais participantes, que tiveram de correr atrás, para construir e seduzir com suas próprias narrativas.

Kaysar despertou interesse antes mesmo de começar o reality, por ser um participante refugiado da Síria. Confesso que tenho minhas dúvidas sobre tudo o que se fala a seu respeito. As pessoas poetizam e dramatizam demaizzzz... Ele mesmo extrapola às vezes no choro forçado sem lágrimas, gritos, garrafinha falante e atitudes incoerentes em relação ao que parece ser um discurso pronto e premeditado. No entanto, quando se olha para a sua participação no reality, o que se vê é uma pessoa de bons sentimentos, fiel a suas escolhas e alianças que ele compôs, mesmo ciente de que seus aliados estão sendo eliminados, um a um. Essa lealdade merece ser valorada e é o que de fato conta, ou deveria contar, dentro do BBB. A sua aproximação com a Jéssica trouxe novo frescor aos dois. Eles são engraçados, divertidos e possuem algo muito importante em um confinamento: têm capacidade de se reinventarem.

Gleici, por sua vez, desde o início é rotulada como a participante coitadinha, carente e pobrinha, merecedora do prêmio por sua condição econômico-social, apesar de ter um cargo em comissão em seu Estado, frequentar a universidade e ter uma militância atuante na política que promove, inclusive, “tombar a Rede Globo”. Vixe!!! Admito estar tentando entender até agora, onde está a coitadinha, carente e pobrinha. Pobre e desvalido é quem mora debaixo da ponte. Além do mais, o que deve contar é o espetáculo e o que cada um traz de si pra dentro da casa. Nesse sentido, Gleici apresenta muito pouco. Não fosse a Ana Clara, provavelmente a moçoila continuaria só, num cantinho, tentando fazer a linha da excluída, embora se comporte lá dentro como uma “madame”. Em nada colabora para a organização e limpeza da casa, sequer lava o copo que usa, nunca fritou um ovo, e nas raras vezes em que se serve de alguma coisa, o faz pensando unicamente nela, não nos outros. É sabido que aquilo não é concurso de quem varre mais o chão ou lava pratos, como também não é de quem é candidato ao Bolsa Família.

No entanto, também faz parte da convivência cuidar do ambiente e colaborar com os demais nas atividades, algo que ela não sabe e não quer fazer. Ter ido para o “quarto do secreto”, a tornou mais intratável, intragável e intransigente do que já era. Soberba sobra ali!!! Afff... E agora parece querer disputar com o Kaysar quem tem a história de vida mais triste, miserável, desgracenta e blábláblázzzzz... Haja paciência pra tanto mimimi, vitimismo e sofrência!!!

A pior coisa que poderia ter acontecido à Ana Clara foi a vampirização e o grude de Gleici com ela. Aquela Clara iluminada, alegre, sensível e desencanada do início, se foi para dar lugar a uma pessoa rancorosa, intolerante e azeda. Como é possível estar num lugar, ignorando e deixando de cumprimentar algumas pessoas?!? Onde foram parar a educação e a polidez necessárias para conviver em grupo?!? Poucos são os momentos que a Ana Clara de hoje faz lembrar a de algumas semanas atrás. Ela e sua linda voz no karaokê, foi um desses raros e encantadores momentos, a contrastar com sua fúria direcionada à Jéssica na noite de ontem, após a votação. Mais uma vez, Clara deixou-se cegar e culpou a pessoa errada. Não por acaso, o alvo foi a participante que a Gleici tanto desdenha e inveja. Porém, o descontentamento, decepção e frustração da Clara não foram motivados pelo voto ou justificativa da Jéssica, mas pelo voto do Breno nela, que o orgulho e a vaidade feminina a impediram de admitir.

Ana Clara e Ayrton, é a outra história que o BBB apostou. Ambos vivendo a relação pai e filha com os conflitos e diferenças a ela inerentes. Talvez tenha sido a narrativa inédita e mais interessante que já se viu em todas as edições do reality, mas que nas últimas semanas se perdeu por conta da arrogância e do clima de “já ganhou” de ambos. Ayrton e Ana Clara subiram no salto junto com a Gleici.

Não há nada pior do que a sensação de “estar por cima dos outros”. Quanto mais alto a pessoa se coloca, maior é o tombo, já diz o dito popular.

Ambos, assim como a jovem acreana, não aceitam ser votados. No entanto, votar nos demais é refresco, não é mesmo???

Ao final da votação o Ayrton dizer que Jéssica e Kaysar seriam suas últimas opções de voto, sendo que já colocaram a moça no paredão e cogitaram indicar o Kaysar, foi de uma falsidade ímpar. Nem a Paula é a última opção deles, a gente sabe. Toleram a jogadora para garantir o voto coletivo, que eles dizem não combinar.

O fato é que Ayrton, hoje, se julga o dono do jogo, com direito a formar os paredões, determinar o eliminado da vez e ter o controle absoluto do jogo. Menos... bem menos... Querer que a filha sorria, quando está mortificada e cheia de rancor, assoprando por trás da porta entreaberta pra ela: “lembra que é um jogo”, coloca por terra a transparência, verdade e honestidade com que diz jogar.

Ao final... quem diria, Jéssica tem sido a grata e grande revelação. Não apenas por sua garra e tenacidade nas provas. Mas, pela história construída. Diante da eliminação da Jaque, seguiu em frente. Após a saída do Lucas, seu escudo até então, respirou fundo e tentou se posicionar novamente no jogo, ao invés de ficar choramingando pelos cantos. Sem deixar de estar próxima à Paula, sua aliada desde o início, aproximou-se daqueles que lhe deram abertura para encontrar-se. Isso é ter resiliência!!! E o mais prazeroso nos últimos dias tem sido acompanhar a sua parceria com o Kaysar. Em meio ao jogo pesado e permeado de desconfiança e rancor que essa edição se tornou na reta final, eles têm sido o refresco, a leveza, o riso, o companheirismo, o lúdico que esse tipo de reality necessita e encanta.

“Vai, vai, vai terminar a brincadeira
Que a charanga tocou a noite inteira
Morre o circo, renasce na lembrança
Foi-se embora e eu ainda era criança”.  


Shadow / Mariasun Montañés
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