Um reality que se preze deveria primar pela imparcialidade de quem o faz. 

Por princípio, ele acontece a partir das relações interpessoais, alianças formadas, conflitos e contradições inerentes à convivência em grupo e à empatia e rejeições que isso provoca no público. Para tanto, é fundamental o mais completo e total isolamento e o mínimo de informações externas.

Nesse sentido, sou essencialmente purista: tolerância zero a interferências, inserções e ingerências de fora. Foi isso que fez as primeiras edições do BBB valerem a pena. Quem fazia o show eram os confinados, não a produção com suas pirotecnias, como se vê hoje.

Quando um participante é separado do convívio dos demais por três dias, cercado de mordomias, isso é inoportuno e contrário à regra básica de conviver e interagir em grupo. A pessoa em questão ganha maior visibilidade e novo fôlego, em detrimento dos demais. E o pior, ao lhe darem a conhecer, pelo PPV, a forma como os demais se relacionam e estão aliados, arruína-se por completo o interessante e surpreendente jogo interno que alguns possam estar fazendo. 

Pois é... e foi assim que na semana em que OGlobo foi invadido e depredado por mulheres do MST, uma de suas militantes era beneficiada com a falsa eliminação, tratada tal e qual heroína de novela e colocada em destaque como favorita ao prêmio por aqueles que fazem o BBB. A mesma pessoa que já debochou e posou com cartazes incentivando “tombar a Globo”.... E quem poderá dizer que a Jean Wyllys de saia não está tombando??? Não satisfeitos, ainda fizeram uma associação forçada do twist com a novela das oito. Algo de uma desonestidade ímpar. Que flopada Rede Globo!!!

Tudo pasteurizado e difícil de digerir. 

Aliás, a eliminação fake não foi surpresa para ninguém. Todos ali sabiam que a Gleici retornaria, até pela forma ruidosa com que ela se portou no período em que esteve no quarto exclusivo. A propósito, é surpreendente que os confinados antecipem antes do público ser comunicado, quando e a que horas o big fone vai tocar, que a prova do líder da semana será de resistência, que um dos emparedados não será eliminado, que o paredão será triplo, que o anjo será autoimune... Haja poder de vidência, não?!? Façaofavor!!! 

Sabe-se lá porque Gleici é a escolhida e queridinha da vez nos bastidores do poder do BBB, tendo sido - inclusive - a única a ser informada, haver sido a menos votada no primeiro paredão triplo do qual se salvou e, agora, ter direito até a bandeira do seu Estado pendurada no quarto do líder. E a do Rio de Janeiro??? Cadê??? Ao que conste os outros dois líderes são cariocas!!! E se há um Estado que hoje está sendo regado por sangue e lágrimas e não deve ser esquecido é o do Rio. Embora, o BBB não seja lugar para se levantar bandeiras ou regionalismos, sejam eles quais forem, não é mesmo?!?

Quando a bandeira do Acre é exposta, apela-se para o nacionalismo das pessoas. E isso nada tem de inocente. Vai ao encontro do que a Gleici insinuou à Ana Clara: “o BBBrasil deve ser ganho por quem é brasileiro”, em nítida oposição ao Kaysar, refugiado sírio. Tenho algumas restrições ao Kaysar, mas reconheço que a exposição da bandeira foi tendenciosa e inapropriada. Nada é por acaso. 

De mais a mais, nesta edição, nítidas têm sido as manobras para enfraquecer e empanar o favoritismo de outros participantes. Apesar da garota acreana, enquanto participante, ser pouco carismática e em nada ajudar a quem se esforça por alavancar o seu favoritismo. É vitimista, preguiçosa, forçada com suas caras e bocas, rancorosa, egoísta, pouco solidária e como bem a catalogou o Diego: arrogante. Aqueles que a compram, na verdade estão comprando o discurso do pobrinho, do politicamente correto e do coitadismo forçado. 

Gleici “o retorno”, confirmou isso. A pessoa voltou totalmente descompensada, sentindo-se “a eleita”, disparando em todas as direções, pronta para fazer a sua ocupação nas dependências do BBB com o mais que batido e odiento discurso do “eu pura” x “nós dubem” x “eles du mau”.

Espetáculo deprimente de quem não soube aproveitar a vantagem que lhe foi dada no jogo. Mil vezes o “Olha elaaaa...” da Ana Paula Renault do que o discurso panfletário de Gleici. Ao menos a outra nos fez rir.

Razão tem quem diz que para se conhecer uma pessoa, dê-lhe poder. Ele (o poder) corrompe e consegue extrair o que alguns têm de pior.

É evidente a transformação que ele causou na Gleici e Ana Clara. Estão literalmente cegas, enxergando apenas o que lhes interessa. Juntas subiram no pedestal à espera da final. Já dão a vitória como certa e pouco parecem se importar com os demais ou até mesmo com o Ayrton.  Filha e Gleici, que tanto criticaram o Caruso por “desrespeitar” o papito, foram incapazes de ouvi-lo e se solidarizar com ele no momento de indicar duas pessoas ao paredão. É quando a fala e as ações sinalizam a incoerência e falta de verdade dos participantes.

As sucessivas lideranças do Ayrton e Ana Clara, bem como, a volta da Gleici embalada por “Blaze of Glory”, têm pesado mais contra do que a favor deles. Fato!!!

O quarto do líder é uma armadilha. Embevecidos pelo conforto e quitutes, os líderes acabam por se isolar do restante da casa, limitando sua interação às imagens que veem na TV, o que os estimula a desdenhar, debochar e subestimar os demais. Hoje, Gleici e Ana Clara, deitadas na cama do líder, remetem a Ana Paula e Patrícia. O mesmo quarto. A mesma cama. O mesmo roteiro.

O ranço de Gleici com a Jéssica é desmedido e transcende a haver sido votada por esta. É inveja mesmo!!! Desde que retornou à casa, ela tem batido na loirinha para convencer os demais a votarem nela. Nem a Ana Lúcia chegaria a tanto!!! “Levanta a cabeça princesa, a tua coroa incomoda!!!”. 

Da mesma forma, a amargura que Ana Clara não consegue mais disfarçar, tem a ver com a conhecida rivalidade feminina. Até certo ponto compreensível, haja vista que foi preterida pelo Breno duas vezes. Primeiro com a Jaqueline, depois com a Paula. Quem conhece a alma de uma mulher, sabe que isso dói e faz sangrar o amor-próprio e que inexoravelmente - mais cedo ou mais tarde - trará consequências. Até aqui, ela tentava se mostrar superior, bastou sentir-se empoderada para começar a cogitar, de “brincadeirinha”, colocar o Breno no paredão e a apontar um suposto distanciamento da Paula, preparando assim o terreno para futuras indicações. Acontece que a Paula não mudou. Quem se encastelou e distanciou foram ela e a Gleici.

De interessante e hilário nesse tedioso triângulo, apenas e tão somente a reação e satisfação do Ayrton ao constatar que Breno e Paula, afinal, decidiram oficializar a ficada. Sem perder tempo e pra evitar arrependimentos, aproximou-se efusivamente dos dois, para cumprimentá-los e dizer que formam um lindo casal. Ahahaha... Impagável!!! Papito papito... se a Ana Clara pudesse, te mandava pro paredão!!!

É uma pena que o desejo de vingança de quem vota, supere a desconstrução de um jogo que está sendo forjado e delineado nas coxias. Neste momento, as torcidas juntas pretendem eliminar com alto índice de rejeição o Diego, quando deveriam focar na eliminação da Gleici para dar sobrevida aos seus favoritos e não embarcar na manipulação de quem controla o jogo nos bastidores, até mesmo para que o Wagner não venha a tirar o lugar de outros mais merecedores. Sempre é bom lembrar que ele conta com a proteção dos “dubem”. De longe, ele é o jogador mais perigoso, falso e traiçoeiro que tem ali, em quem apenas o Kaysar vota.

Diego é um excelente estrategista. Seu jogo ficou contaminado pela proximidade com a Ana Paula e a Patrícia, que apostaram em desconstruir os adversários, enquanto ele apostava em probabilidades e a sobrevivência. Tem uma admirável visão da dinâmica e do jogo de cada um. As três plaquinhas imaginárias que tanto incomodaram Gleici, Ana Clara e Wagner, foram precisas. Conseguiu resumir em três palavras: arrogância, hipocrisia e covardia, a posição que hoje eles têm no jogo. E o mais interessante: já percebeu o direcionamento que está sendo feito por trás dos espelhos. Ontem ao indicar a Gleici, como bom jogador, foi pro tudo ou nada, o mano a mano. No lugar dele, teria feito o mesmo. 

Pena!!! Com a provável eliminação do Diego perdem o jogo, os demais participantes, o público e a próxima edição do BBB. A mensagem subliminar que fica é: “Se quiser vencer, durma não se exponha; ao acordar, vitimize-se e diga estar sendo perseguido; induza os votos realçando que o seu jogo é limpo e que vota com o coração; deixe claro que você é “dubem”, os “dumau” são os outros... ah... e não se esqueça de levar a bandeira do seu Estado pra agitá-la em dias de paredão”. Receita certa para o antijogo, direcionamento, marasmo e tédio. 


Shadow / Mariasun Montañés
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