A esta altura já é possível ter uma visão panorâmica do jogo e formar uma opinião sobre cada um dos participantes. Conhecer suas motivações, alianças e favoritismo.

A principal narrativa do BBB18 passa por Ana Clara. Desde sua relação filial com o pai, sua devotada amizade ao Mahmoud e Gleici, o triângulo formado com Paula e Breno, a divertida parceria com Kaysar, a brilhante leitura do jogo, o bom desempenho nas provas da comida e do líder, as certeiras indicações ao paredão, suas justificativas sempre precisas e bem fundamentadas, o seu excelente fair play.

Por mais que alguns tentem negar-lhe o brilho, não há como não ver essa dinâmica.

Um reality show é feito disso. 

Querer transformar o BBB num jogo de MMA, sem regras ou ética, num vale tudo pra escapar do paredão ou, num mundo de Polyana, onde todos estão lá pra “brincar de contente”, falar com garrafinhas ou dançar com coqueiros, é querer ganhar na base da força ou da enganação. E numa competição onde o grande desafio é conviver com desconhecidos o grande mérito está em se mostrar como pessoa, “se jogar”.

Há uma diferença sutil entre jogar e se jogar. E Ana Clara é quem de fato “se joga” nessa edição. Suas qualidades e defeitos não são segredo para o público. A ruivinha é intensa e única.

O BBB dos Lima. Uma família de dois, pai e filha, confinados, tendo que lidar com as suas diferenças e conflitos diante das câmeras. 

Ana Clara com sua espontaneidade e energia, foi atraindo para si a atenção do público, enquanto tentava lidar com a presença do pai, sendo este sua fragilidade no jogo. Ele representa o seu confinamento dentro do confinamento. A autoridade que censura. O superego que condena. Estão atrelados entre si. O destino de um irremediavelmente será o do outro. Se um decidir pegar as malas e sair, o outro terá que sair junto mesmo não querendo. Aliás, golpe baixo ameaçar fazer isso!!!

Estar confinado sem internet, sem celular, sem amigos, sem família, não é fácil... Opsss...  no caso de Clara não é bem assim. O confinamento com o pai está sendo a mais longa prova de resistência antes já vista em qualquer outro reality. E... para o Ayrton também.

Ser pai não é fácil. Dentro de um reality então... Bancar o bonzinho, fingir que não vê a filha beber e flertar com um rapaz inconsequente, seria o mais fácil. Difícil mesmo é saber como agir. Encontrar as palavras certas, o tom certo pra não desafinar. Afinal, ela está apenas vivendo os seus vinte anos, diante de um pai confrontado com aquilo que os filhos aprontam na vida real quando os pais não estão por perto.

E pra completar o cenário, só faltava o quase sogro ser adversário direto do quase genro em uma prova. Breno x Ayrton. Que final de prova do líder foi aquelaaa... O garotão querendo gabaritar no 10 10 10 e o tiozão apenas focado em pontuar. A impulsividade x a experiência. Claro que a experiência tinha tudo pra levar a melhor. Como levou. 

Breno não é o único querendo gabaritar no 10. Lucas também. O sujeito boa praça nota 10. O noivo fiel nota 10, enquanto se relaciona com Jéssica, a amiga fiel nota 10, vivendo uma situação “fraternal” nota 10 e, ambos, tentando convencer que sedução, tirando os nove fora, não passa de uma brincadeira inocente. Lucas e Jéssica também vivem o confinamento dentro do confinamento. É como se tivessem sido aprisionados pelo “Feitiço de Áquila”. A forte presença de Ana Lúcia não permite que eles avancem, parecem condenados a vagar sem rumo pelos quatro cantos da casa. Com isso a narrativa deles torna-se enfadonha e cansativa, enquanto o público ama histórias que os surpreenda. Uma das poucas surpresas que o Lucas proporcionou até aqui, foi haver trazido Ana Lúcia ao jogo e desmascarado o voto do dissimulado Wagner, no mais tem sido tiro no pé atrás do outro. Jéssica, por sua vez, mostra o desgaste e o cansaço da maldição dos amantes desta edição. Está super hiper sensível. Sua reação às brincadeiras noturnas do Caruso foram desproporcionais e vários tons acima do normal. Tá certo que depois de haver tirado a barba, ele faz lembrar o Tio Fester da Família Addams. Mas daí reagir a ele como se estivesse diante do Freddy Krueger, vai uma distância muito grande!!! 

Falando em maldição dos amantes há também a do Breno com a Paula. Se o “vai num vô” do Lucas e a Jéssica é enfadonho, o mela-mela dos dois não fica atrás. Entre eles, outra Ana: a Ana Clara, que também é motivo para que eles vivam um confinamento dentro do confinamento. Muito esforço e tempo desperdiçados só para ficar num beijo ou amasso “proibidos”. A energia, a intensidade, as emoções não fluem. O público, por sua vez, gosta de se sentir arrebatado, de shippar com vontade e de clicar muitos emojis na forma de coração. No entanto, Breno e Paula não inspiram. Aliás, a bela Paula é muito mais que uma boca a ser beijada. É competitiva, determinada, desafiadora, inteligente, engraçada, divertida. Não obstante, o seu jogo fica limitado a um crush, que não passa de um moleque, que também é o crush da amiga, e à sua fidelidade à Clara tanto quanto a do Lucas a sua noiva. Verdade seja dita, a aproximação das duas (Clara e Paula) é muito mais interessante e rica do que a da Paula com um rapaz que parece ter ido lá só pra beijar e edredar, sendo que até o edredar... ainda está no querer.

Por outro lado, quem já realizou o querer do verbo edredar, foi a Gleici. Ela tanto cercou, tanto teimou, tanto insistiu que acabou indo pro “rala e rola” com o Wagner. A “menina” que ganhou visibilidade graças à Ana Clara, cuja estratégia de jogo é manter certo isolamento e não interagir com a maioria da casa, de fazer a divisão na casa entre os “du bem” e os “du mau”, foi engatar um romance justamente com um dos participantes mais falsos, manipuladores e astutos que já passaram pelo BBB. É.... o confinamento pode ser traiçoeiro. Achar que casal é forte é outra forma de viver o confinamento dentro do confinamento. E, não, ela não é Chapeuzinho Vermelho sendo manipulada pelo Lobo Mau. Ela planejou. Entrou nessa de caso pensado. É preciso deixar de fantasiar e ver o BBB a partir da história de vida que o público imagina dos participantes. Não tem ingênuo ali. Não tem coitadinho. Não tem desvalido. São todos adultos, capazes, articulados, responsáveis pelo que fazem e... jogadores... 

Agora... se tem um grande jogador nessa edição, ele tem nome: Wagner. Muito embora quem leve a fama sejam o Diego e a Patrícia. Os três têm uma extraordinária capacidade de manipulação e de pressão psicológica. O que os diferencia é a forma de jogar. O jogo do Wagner é sorrateiro enquanto o do Diego é compartilhado e o da Patrícia é o de oportunismo. O Wagner tem um jogo dissimulado e solitário. O Diego age em grupo e seu jogo é aberto. A Patrícia aposta na desconstrução da imagem do adversário. Do Wagner o público não sabe o que esperar, ao contrário do Diego e da Patrícia. Em comum o fato de tentarem permanecer o maior tempo possível na casa, derrubando a cada semana um de seus oponentes. Estão confinados e limitados a esse jogo dentro do confinamento. Esqueceram de uma regrinha básica: quem está no comando do jogo é o público.

Patrícia, tal qual o Wagner com a Gleici, tenta formar uma dupla com Kaysar, talvez por intuir que ele é forte. Outra dupla sem sal, sem emoção, sem verdade. Até mesmo porque, a cada dia, Kaysar demonstra ser um personagem muito bem construído. O rapaz puro e inocente, que fala com uma garrafinha, que faz questão de segurar uma medalhinha da família diante das câmeras, que plantou um pé de feijão para - provavelmente - interagir com a plantinha em crescimento, que finge dormir quando as câmeras se acendem e o programa entra no ar, que mostra pouco empenho nas provas do líder, que é o único participante de todas as edições que não revelava a ninguém o seu voto, o que foi quebrado ontem apenas por uma dinâmica do jogo... Até que enfim se comprometeu!!! Porém, suas atitudes não condizem com um homem de 30 anos, que tem boa formação, fala vários idiomas, já morou em vários países e é oriundo de um país em guerra. Pode ser uma excelente pessoa, como de fato parece ser, mas tudo soa muito forçado. Alega não conhecer o idioma e se atrapalha com palavras corriqueiras do português, mas durante as festas canta todas as músicas melhor do que eu, aliás, dança com uma desenvoltura e coreografia como se frequentasse as baladas noturnas ou... fosse garçom do Clube das Mulheres. Algo não bate. Como não bate a sua aproximação da Patrícia.

Outro participante que levou ao pé da letra o confinamento dentro do confinamento foi o Mahmoud. Ele é um sujeito acolhedor, afetivo, amigo de seus amigos, inseguro, destemperado... mas... quando bebe, senooor... é capaz do inimaginável!!! Conseguiu a proeza de ficar preso dentro do porta-malas do carro da FIAT por quase quinze minutos. Genteeee... O pior é que ninguém percebeu. Hello... estagiários!!! Tiraram um cochilinho, é??? Como ninguém deu pela falta daquele ser inquieto e voz aguda?!? Não fosse a Patrícia ver o carro se mexendo e ter a perspicácia de perceber não se tratar de efeitos especiais, ele foi resgatado. Ufaaa... Quase protagonizou uma eliminação inédita: o primeiro participante a ser eliminado dentro de um porta-malas, rsss... Agora me digam: precisava levar o confinamento tão a sério???

Enfim... mais um paredón. Desta vez Mahmoud escapou. Sobrou pro Diego (indicação dos líderes), Caruso (preferência da casa) e... Lucas, graças ao Kaysar. Desta vez não haverá alta rejeição e nem certeza na bolsa de apostas de quem sairá, até mesmo porque o queridômetro dos três anda bem próximo ao de muito político. A lamentar, apenas, a ausência do Viegas nesse paredão. Ele pouco faz na casa, se recusa a participar de atividades que considera bobas como fez no Carnaval, reclamou até cansar do castigo do monstro, tá certo, todo mundo entendeu que o Diego colocou os “amigos” pra não se queimar com os demais, massss... tudo isso faz parte do jogo, que vale um bom prêmio em dinheiro. Lá não é uma colônia de férias. Ou ele não sabia??? Ele é o participante que está no confinamento sem estar.


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