Viral nas redes, hábito começou como válvula de escape para ansiedade; especialistas apontam riscos e celebridades surfam a moda

O uso de chupetas por adultos, que ganhou força recente nas redes sociais, parece brincadeira — e muitas vezes é tratado assim —, mas também abre discussões reais sobre saúde mental, comportamento e limites do entretenimento. O tema explodiu após vídeos virais, como o de Ary Fontoura dizendo “Agora lascou foi tudo”, ironizando a febre como “a criança virando adulto, o adulto virando criança”, e pedindo à Alexa, em tom de piada, para “disparar um meteoro na Terra”. A pilhéria funcionou como lupa para algo que vinha crescendo aos poucos.

A tendência tem sido associada a uma origem prática: aliviar o estresse e a ansiedade por meio do ato de sucção. Relatos que circulam desde a Ásia — especialmente a China — apontam adultos adotando chupetas como ferramenta rápida de autorregulação emocional. No Brasil, a moda encontrou terreno fértil: estética “fofa”, nostalgia, cultura de memes e uma timeline que vive de tendências relâmpago. Ao redor disso, surgem referências de “infantilização do adulto” e movimentos culturais que celebram o lúdico, reforçando a mistura de escapismo e humor.

Nomes conhecidos também ajudaram a espalhar a pauta. Além de Ary Fontoura, episódios com Rafael Cardoso (flagrado pela então esposa, Mari Bridi, em um momento descontraído com o filho), registros de Fernanda Lima em fotos compartilhadas por Rodrigo Hilbert e imagens de Neymar com a filha Mavie circularam e foram interpretados por muitos como adesão — ainda que, na maior parte das vezes, o contexto seja de brincadeira, afeto ou performance para a câmera.

Por trás do fenômeno, há explicações da psicologia e da psiquiatria. A sucção pode ser vista como “regressão” — um mecanismo de defesa no qual o indivíduo, sob pressão, recorre a hábitos de fases anteriores para sentir segurança. O movimento estimula vias de recompensa e pode aumentar a sensação de relaxamento (com liberação de neurotransmissores como a serotonina). Porém, o alívio é momentâneo: não trata a raiz do estresse, pode virar bengala emocional e, se usado como estratégia principal, adia a busca por soluções mais duradouras.

Além do campo emocional, existem os cuidados clínicos. Dentistas alertam que, mesmo em adultos, a sucção repetida pode alterar a oclusão, levando a mordida aberta, desalinhamento dentário, mudanças na deglutição e impactos na respiração. Há risco adicional de sobrecarga na articulação temporomandibular (ATM), sensibilidade muscular e problemas gengivais. Também é preciso atenção à higiene: um acessório mal higienizado pode acumular bactérias e fungos, favorecendo inflamações.

Se a motivação é reduzir tensão, há alternativas com melhor custo‑benefício em saúde: psicoterapia, práticas de mindfulness, exercícios regulares, respiração diafragmática, rotinas de sono consistentes, redução de telas no período noturno, fortalecimento da rede de apoio e lazer off‑line. Para quem busca uma “descarga” oral sem impactos tão agressivos, chicletes sem açúcar ou brinquedos antiestresse cumprem parte do papel sem forçar tanto a oclusão.

No plano social, a “trend” escancara o choque entre humor e responsabilidade. Celebrar o lúdico é legítimo, mas normalizar o uso indiscriminado pode levar pessoas vulneráveis a adotar a prática sem considerar os efeitos. É recomendável que criadores contextualizem o conteúdo, evitem associá‑lo a menores e reforcem mensagens de cuidado. Para quem sente que a ansiedade está fora de controle, o caminho mais seguro é procurar acompanhamento profissional.

Em síntese: a chupeta para adultos virou assunto porque mistura graça, nostalgia e alívio rápido. Mas, como toda moda que envolve o corpo, pede moderação e informação. Entender por que você precisa da ferramenta — e investir em estratégias mais sólidas de manejo do estresse — é o que diferencia uma brincadeira pontual de um hábito que pode custar caro ao seu bem‑estar.

 

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