Texto recebido de Luís Lima em 28/03/2020

Antes de fazer este tributo à Drª. Thelma, vou dissertar sobre os outros três concorrentes finais deste BBB record em votação: Babu, Manu e Rafa.

Babu foi um jogador dúbio, vacilante nas falas e agressivo nas atitudes; e isso caracterizou o seu ser sendo no jogo. Um cara que se preocupava em zelar pela limpeza da casa, pela economia da cozinha, como também resmungando das contas a pagar, chorando miséria e fazendo um VT de vitimismo social. Essa foi sua apresentação durante quase todo jogo. No começo se aliou ao discurso feminista, das fadas, das militantes, sendo o Babu do teatro. Mas depois, comprando a briga de Lucas, se conflitou com as mulheres, no caso de zero estalecas do bad boy de Santa Catarina. Saindo Hadson e Lucas, sentindo-se sozinho, excluído pelas fadas, exceto Thelma, se aliou a Prior, o pior de todos. E essa aliança dos dois machos foi de péssima condição. E ele mesmo confessou no Gshow que se aliou aos dois para não ir ao paredão. Mas com Prior, Babu voltou a ser o “jovem” da favela, preconceituoso, homofóbico e machista, a saber, na festa do líder Pyong, ele o chamou de viado (“Tá olhando para mim por que viado?") e em paralelo chamou Dan de viadinho (“Que foi, viadinho?"), além disso, expôs verbalmente uma velada ameaça de socar o Daniel (violência física) e disse pro Prior que aqui fora havia um cardápio de mulheres para ele saborear (Eis o machismo!). Isso me chocou porque Babu foi a contradição viva desse jogo entre Ser Favela e Ser Teatro. Ser ou Não Ser? Eis a questão existencial de Babu. Esse dilema de homo sapiens do teatro e a ignorância do “homem favela”. Foi a dez paredões e no último tombou, porque a força da torcida feminina foi mais determinante em votar, não sei se era a maior. Teve muito azar no jogo de perder lideranças e prêmios como o do carro Fiat, sempre morrendo na praia e no último paredão, ele realmente encalhou na praia. Ponto final para ele, causando uma certa comoção nacional, mas sendo compensado com um carro dado pela Fiat sob o apelo da torcida. Agora torcer para que o Babu do Teatro se sobreponha ao Babu da Favela, eivado de machismo, homofobia e violência verbal e física (“tenho cara feia para impor respeito” = parece discurso de chefe de tráfico). Não gostei desta fala autoritária.

Manu é uma pessoa fofa, encantadora e em muitos momentos, doce. Mas com uma língua militante afiada que muitas vezes apresentava um feminismo agressivo. Com o tempo foi melhorando e podando suas falas. O que mais me impressionou foi a sua eugenia, ao dizer que Marcela e Dan formavam um casal lindo, combinavam. Será por que eram loiros? Me cheirou preconceito essa fala mal elaborada. Poderia ter dito de outra forma. Mas em BBB, cada fala tem um peso, um ônus e um bônus. Fora isso, Manu foi esplendida no decorrer do programa, defendendo com unhas e dentes sua militância feminista, suas opiniões e visão de mundo, contrariando Boninho e Leifert, porque ela não era obrigada a falar o que não queria falar no jogo da discórdia, só para agradar os dois, o programa. E sobretudo quando acolheu Thelma que estava sendo colocada de canto por Marcela e GY, ao se aproximar mais de Dan e Ivy. Ela conseguiu derrubar o jogo do ícone do machismo idiota, Prior, numa votação de mais de 1 bilhão 500 mil votos. Prior, o último macho da Macholândia escrota a ser rifado do jogo. Foi uma votação de Copa do Mundo e um susto para Manu boquiaberta. Daí fiquei aliviado, porque se Prior ganhasse o BBB, seria a vitória também dos machos escrotos. Nesse sentido, Manu foi uma peça fundamental para enterrar de vez a Macholândia do jogo, expulsando do jogo o último machista alfa porra-louca.

Rafa, foi muito corajosa no jogo, ao enfrentar na segunda semana do jogo ou terceira, não lembro, os machos que queriam queimar Bia e Mara pros seus companheiros e pro público, como piriguetes “chifrudeiras”. Descoberto isso pela Marcela com a fala de Hadson, Rafa foi defender as duas mulheres com quem não tinha aquela afinidade, mas mais pela defesa de todas as mulheres. E ainda essas duas mulheres ainda ficaram na dúvida sobre isso, até aparecerem Dan e Ivy para lhes contar o que o público dizia na casa de vidro. Rafa só pecou pela defesa de Paulinha, a “racista” do BBB-19, a saber, tentou defender o indefensável. Babu e Thelma deram um freio nessa fala dela. Mas? Percepções e erros de falas à parte, Rafa foi 99% do jogo linear tal como a Thelma. Foi a que percebeu a falta de solidariedade de Marcela e Gy com Thelma quando Daniel lhe deu o monstro. Rafa, para mim, mereceria o terceiro lugar, e Manu o segundo. Mas sua torcida era mais forte.

Por fim, a vencedora e elegante Drª Thelma, adotada aos três anos de idade por um casal de negros (não gosto do termo preto, acho mais pejorativo), queria ser médica desde criança. Seu primeiro sonho era ser bailarina e conseguiu ser com uma bolsa de estudo de 100%. Daí seu intuito maior e mais difícil era ser médica, uma profissão que antes só era de pessoas da classe média e alta. Aí ela furou a bolha da pobreza para ascender socialmente, intelectualmente, culturalmente etc. E melhor, uma médica anestesista que é uma profissão que ganha bem. Foi um susto para aqueles “playboyzinhos” da Macholândia ver uma negra médica: “Oooooh! Como ela conseguiu?” A sua história de vida, de superação e de inserção social cativou muita gente aqui fora e sobretudo a mim, que estava dividido entre a médica loira e a negra para vencer o jogo, sendo que minha inclinação estava mais para Thelma. Tanto que aqui nos comentários a defendia dos comentários ácidos e não entendia essa antipatia pela “planta” Thelma, que as vezes me cheirava um racismo velado. Thelma nunca foi planta. Thelma foi cirúrgica no jogo. Nunca se vitimizou, mas passou uma mensagem de superação. Como ela mesma disse: “observei as pessoas para saber quem era o manipulador, o estratégico etc., para depois me expor e impor. Na hora de me posicionar, me posicionei. Na hora de brigar, briguei. Na hora de me acautelar, me acautelei”. Thelma foi a balança em equilíbrio emocional. Nunca foi planta, pois se fosse planta não incomodava Flay e Prior. A sua leveza humana de mulher black incomodava, porque ela não era de barraco, de estender a briga. Até quando ensaiava um barraco com Lucas e Flay, havia elegância no seu modo de falar e ser. Como disse uma pessoa, se Thelma foi uma planta, foi a planta “comigo ninguém pode”. Planta, como disse alguém, tem raiz, dá flores e frutos, alimenta os animais e humanos. E Thelma fez toda a diferença, ao sabotar o jogo BBB com sua esperteza de mulher negra, sendo a Zebra que ninguém achava que venceria. Ela deu uma rasteira nos espertalhões da casa BBB e nas torcidas virulentas de outros participantes. Thelma embaçou essa turma para chegar no final da corrida ao pódio. Thelma foi reta, retilínea, leal, verdadeira, ética e, sobretudo, amorosa e compreensiva. Parabéns, Doutora vencedora na vida, você deu um drible no racismo e no machismo do BBB, você nos conquistou.

E a todos deste Votalhada, aos comentadores, escritores e ao Luís, um grande abraço fraterno e tenham cuidado com o Coronavírus que parou o mundo, pois não há mais leito para todos. 

Luís Lima - Luiz_113@hotmail.com

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