Texto recebido em 13/04/2019

Primeiramente, quero agradecer ao Votalhada o convite para escrever textos sobre os participantes do BBB-19. Para mim foi um grande prazer fazer análises sobre os candidatos, mesma que a imparcialidade não seja 100%, e jamais será, seja quem for escrever, ainda que relate só fatos sem fazer juízo de valor, porque até relatar fatos pode inserir camufladamente um juízo de valor ou ser interpretados de acordo com o que se vê e sente. Como somos juízes desse jogo, fica quase impossível tal meta. E também agradecer aos leitores que fizeram seus comentários elogiando ou criticando os meus textos. Porque nunca a verdade e a razão pertencerão a uma só pessoa, já que não há perfeição na percepção, no sentimento, no juízo e conclusão do ser humano imperfeito. (A redundância foi proposital, pedagógica).

Dito isso, vamos falar dos finalistas que não deixam de ser vencedores deste BBB: Alan e Paula. Dois personagens carismáticos, mas tão diferentes ao mesmo tempo. Poderia defini-los como a razão contida e a emoção sem noção. Um o oposto do outro, nesse sentido. Comentar sobre suas caminhadas no jogo, aí que a coisa se torna mais diversa mesmo, ou seja, o mudo e a falastrona. O bicho coala e a hiena ululante. Parecidos apenas na loirice. Um, simboliza o Respeito, a outra, o Deboche. E o Deboche venceu, cativou a maioria. O Respeito virou chatice. Enfim!

O que dizer sobre Alan?

O grande Irmão, não no sentido original, mas no sentido de um grande “fraternizador”. Um homem-anjo jamais visto em todos os BBBs. Alan foi isso, o verdadeiro Ser Humano que tem mais um adjetivo, solidário: Ser Humano Solidário.

Alan entrou no BBB junto com Paula e saiu junto com ela de mãos dadas, abraçados. Eis que nunca esperávamos que os dois tivessem o mesmo destino de saírem como entraram. Coincidência ou destino? Eis o mistério da vida! Tímido como Danrley no início do programa, Alan protagonizou um romance com Hana. Logo quem? Com uma pessoa totalmente diferente dele, a saber, o silêncio + grito = love story: O silêncio se relacionando com o grito ou a paciência em sintonia com a impaciência. ´

É assim que começa a trajetória de Alan no BBB. O primeiro casal da casa e o primeiro a se separar por um paredão. Alan, sozinho, foi acolhido pelo grupo Gaiola. Essa sintonia era natural, já que Alan tem uma relação tão carinhosa com os animais abandonados que consequentemente também não poderia deixar de ter uma relação amorosa com os que sofrem discriminação social: o negro, o homo e o pobre. E ele, um animal abandonado no BBB. Mas o que mais se aproximou dele foi Rodrigo que viu no Alan um homem de verdade, sem preconceitos, doce, sem deixar de ser viril, tendo uma empatia com os “diferentes” dele. Essa é a palavra-chave para a gente gostar de alguém: empatia.

Alan sempre era o bode expiatório das escolhas: “vou votar em você, Alan”; “desculpe, vou excluir você, Alan”; “Alan, não leva mal, mas vou te pôr no ‘tá com nada’; e assim Alan era o alvo até mesmo do grupo Gaiola, isto é, dos dois grupos. Por isso que Carol e Paula disseram que ele era o apêndice do grupo Gaiola, quer dizer, era a ponta a ser cortada, se fosse possível. Mas houve um momento na Roda do Amor que Alan recebeu o afago de Gabi e Rodrigo. Gabi para Alan: “acho que nunca tive contato com ninguém que entendesse a minha dor, sobre a minha doação, em 32 anos de vida”. De Rodrigo para Alan: “Pouquíssimas pessoas eu permito que cuidem de mim, e você cuida de mim... obrigado. (Veio o choro dos dois)”. Para mim, a Roda do Amor foi o ponto crucial deste BBB, num mundo tão carregado de egos hostis e boçais, cada um querendo impor suas opiniões como verdades absolutas, sem diálogo, sem discussão racional.

Alan foi o menino do Rio, calor que provoca arrepio, dragão tatuado no braço, calção corpo aberto no espaço, coração, de eterno flerte, adoro ver-te; menino vadio, tensão flutuante do Rio, eu canto pra Deus proteger-te... O Alan é isso, a natureza humana in natura. Um homem tardio que não percebe a malícia humana rápida, porque confia no ser humano gratuitamente. Pois, como diz Sartre: “o amor é gratuito”. O Alan chegou à final pelo desejo dos deuses do olimpo, pelo olhar cândido da alma, pela fortuna dos poucos e, principalmente, porque o Universo conspirou a favor. Empresário e administrador em Criciúma, Alan nos deu uma lição de como ser humanamente humano. Feliz Vida, rapaz de 26 anos.

O que dizer de Paula?

Falar de Paula é um exercício de ética relativista. É um desafio à imaginação e à razão humana, ou seja, imagem e pensamento tentando se conciliar. Porque não é fácil defende-la do seu non sense, das suas falas insanas carregadas de pré-conceitos ou conceitos malformados, não diria nem preconceitos no sentido pejorativo, ou seja, de intransigência na forma de pensar e conceber o mundo. Paula é uma pedra bruta a ser polida. Porque não acredito que ela seja má. Acredito que ela seja mal informada, alienada; mesmo que se exija de uma advogada certas posturas do politicamente correto.

Comecemos pelo começo. Paula e Alan entraram juntos. Conheceu a grande amiga que nunca teve aqui fora, a não ser a porca Pipa. Talvez a porca tenha sido seu escape da solidão. Mas como entender a psicologia de Paula? Ela nos dá algumas pistas: alegre, debochada no falar, sarcástica, irônica, mas também amável quando quer ser e até acolhedora. O seu choro me revelou uma Paula muito melhor do que seu sorriso sarcástico, cínico e debochado. Isso deve ter conquistado um público que assim se espelha nela.

Sua única relação verdadeira, talvez, tenha sido com Hari com quem se identificou à primeira vista, quer dizer, paixão ao primeiro olhar, contato etc. Hari e Paula formaram uma dupla do barulho. Se tivesse que nominar Paula com um nome de um filme, seria A Pestinha. Sapeca, moleca, divertida, engraçada eram suas qualidades, suas virtudes humanas. Porém, a falta de informação sobre as religiões afros, quer dizer, por informações distorcidas da umbanda ou candomblé, Paula cometeu racismo religioso, mesmo que inconscientemente. Natural numa sociedade de uma cristandade ignorante. Porque a gente erra e peca muitas vezes por ignorância, por falsas concepções que a gente inocula e cultua no pensamento. E aí que Paula sapeca se transformou numa Paula “racista”. Porque as vezes comentemos racismo sem saber que cometemos.  Deixo em suspenso isso, até que a Justiça se expresse.

Paula, sem dúvida nenhuma, foi a que mais provocou os adversários na casa e seu ponto forte foi questionar o jogo do Gaiola, do Rodrigo e do Danrley. Bateu de frente com adversários e deu a cara à tapa. Não teve medo, porque medo não faz parte da sua existência humana. Contudo, a falta de medo pode nos levar a situações embaraçosas, perigosas. O medo é freio; é prudência. Dançava, curtia, falava mal, falava bem, dela mesma e dos outros. Parecia ter consciência das suas mierdas, tanto que se autocriticava, dizendo morrer pela boca. Sentiu-se algumas vezes sozinha, acuada no jogo, tendo só Hari e depois Carol como parceiras no jogo. Mas quando percebeu que não sairia dos paredões, seu índice de confiança aumentou e assim conseguiu dar voo no jogo.

Queria uma final com as duas amigas. O que não aconteceu porque os deuses da conspiração não foram a favor de seu desejo. Uma metáfora que faço para tentar clarear o jogo. Chorou quando Hari foi expulsa, pois foi ela quem a pôs na final e, entretanto, gritou de alegria quando ficou na final com Alan, ao derrotar a parceira Carol. São sentimentos que vão do inferno ao céu e vice-versa. Ganhou dois carros da FIAT, cozinha da Cônsul, fora sapatos, óculos e, por fim, o prêmio maior.

Lendo agora suas últimas entrevistas, Paula disse que vai se retratar com os ofendidos e disse que não tinha a intenção de magoá-los, pois as palavras proferidas na casa sobre cabelos, religiões e olhares foram de uma pessoa que não tinha conhecimento profundo sobre esses temas do politicamente correto. Vai depor na terça-feira, junto com a advogada, sua irmã, e irá esclarecer tudo. Espero que Paula reveja seus conceitos, porque numa sociedade marcadamente racista como o Brasil, que não se assume racista, a carne negra é morta, assassinada, presa e humilhada todos os dias no Brasil. Brincar com a etnia negra, fazer humor preconceituoso ou dizer que há racismo inverso é de uma irracionalidade e ofensa gritantes à história. É desconhecer todo processo de estruturação cultural do racismo no Brasil, nas relações humanas, no olhar desconfiado do branco quando olha para um negro pobre, nos elevadores dos prédios, na pergunta a uma médica negra sobre em que apartamento ela trabalha como doméstica etc.

Paula não é nenhum monstro, é apenas uma moça politicamente alienada e que acredita que militância é algo negativo. Pelo contrário, por causa da militância emancipacionista, muitas coisas ruins no mundo foram abolidas ou criticadas como escravidão, discriminação social, exclusão, machismo, homofobia, transfobia, feminicídio etc. Que seja feliz com seu um milhão e meio, mas que recrie seu sarcasmo como graça e não como deboche. Boa Sorte, Paula.