Um tributo à Gleici,
a menina sorriso campeã do BBB-18

Como diz a canção sobre o Ser Gleici:

“Ando devagar porque já tive pressa
e levo este sorriso, porque já chorei demais.
Cada um de nós compõe sua história e
cada ser em si carrega o dom de ser capaz.
É preciso amor para poder pulsar
É preciso paz para poder sorrir
É preciso a chuva para florir”

Gleici é e foi isso no BBB-18. No começo, odiada, desdenhada, discriminada, por ser petista, pelos segmentos de direita, pelos moralistas políticos de goela, pelos haters racistas que a chamaram de macaca petista, enfim por uma transferência de ódio político a uma moça que não fez mal a ninguém na casa nem aqui fora. São pessoas que não sabem o que é uma luta política contra a opressão do sistema da exclusão social.

Gleici nunca foi vitimista ou se autovitimizou, mas foi vítima sim, do complô do G-7, da indiferença de Lucas e Jéssica na primeira semana, deixando-a sozinha na mesa, sem ter voz acolhida, mas que encontrou uma irmã de coração, Ana Clara, que a adotou, melhor, elas se adotaram, levando Gleici como suvenir, o pai postiço Airton.

A amizade entre Ana Clara e Gleici foi tão verdadeira, tão cristalina, que amor delas duas incomodava os gamers da casa, os tais jogadores frios, calculistas de uma matemática contábil iníqua de querer eliminar o adversário pelo jogo sorrateiro, oculto, clandestino do G-7. Os medrosos de paredão. O vale tudo para escapar do julgamento do público.

Mas o que fez Gleici conquistar o público maior? Acredito eu que a sua verdade humana, sem ser fake, sem ser over, sem ser caricata. Ela se apresentou assim: “sou tímida, falo pouco, mas sou humana, sou coração”. E a planta floresceu no jogo devagarzinho, construindo a sua história junto com Wagner, mas, sobretudo, junto com Ana Clara, que merecia o segundo lugar. E a flor amarela surgiu no jogo com o retorno à casa dos sete gamers calculistas em que o deboche deu a tônica de vosso comportamento.

Se fosse enumerar aqui os deboches e as discriminações que Gleici sofreu pelas costas, dos adversários, seriam estes:

Ana Paula: “Ela não é a mulher brasileira, é acreana. No Acre tem 60 Gleicis.”
Nayara: “Eu tava muito afim de dar um soco na cara dela.”
Lucas: “Dona e proprietária de cama (deboche).”
Patrícia: “Vou esfregar (a vagina) na cara dela, pra ver se ela gosta!”
Diego: “Gleici não tem a mesma capacidade intelectual que a gente.”
Caruso: “Mãozinha de bosta do caralho.”
Viegas: “Vontade de falar que não vai pegar nenhum ovo, e jogar tudo no chão.”
Jéssica: “É uma questão de berço.”

Isso mostra a mentalidade de uma classe média soberba no Brasil, mesmo uma fração da classe média baixa que pensa que é burguesa sem nunca ser. Porque sua mentalidade é pequeno-burguesa e sua visão de mundo é a visão elitista da vida. É a ideologia da meritocracia desumana neoliberal que povoa o pensamento dela.

Se Gleici era vista como uma planta, porque não conseguia se enturmar com pessoas da classe média soberba, é porque sua humildade humana se antagonizava com a empáfia de Diego, a falsa bondade de Patrícia, a petulância da bruxinha, a agressividade ogra de Caruso, a indiferença de Viegas e  a sutil boçalidade de Jéssica.

Mas Mara, Mahmoud, Paula e, sobretudo, Ana Clara e papito a acolheram na relação que se ampliou com a paixão de Wagner. Talvez uma paixão pelo ser humano Gleici, pelo ser feminino diferente.
Gleici é militante, é de luta, logo foi politizada no processo da luta e não por revistas ou jornais patronais que editam os fatos ao bel prazer de seus interesses ocultos. Ela sabe da dificuldade da luta dos pobres de se organizarem e se conscientizarem da sua condição histórica de exploração e opressão no mundo. Não foi à toa que gritou “LulaLivre”. Não é agente passiva do telejornalismo brasileiro familiar. É crítica da imprensa oligárquica. E se defende a inocência do Lula, não é do nada. Porque há divergências jurídicas sobre sua condenação por vários juristas brasileiros e estrangeiros. Mas não vou falar de política aqui, porque perderia o foco.

A diferença entre Gleisi e Kaysar é apenas uma: ela foi ela mesma, verdadeira, na sua meiguice, na sua doçura com quem merece, mas também foi incisiva com quem lhe atacava, como as ironias de Caruso e os sofismas filosóficos de Diego. Kaysar foi um pantomima, um ator de rua, que fez caras e bocas, caretas, piruetas, frases de efeito, sem ser ele mesmo de verdade, porque ele camuflava sua revolta interior que se manifestou num grito violento contra Airton: “sai, sai, me deixa.” No final do jogo, jogou. Quando a liderança era prêmio de carro, Kaysar se esforçou como nunca, divergindo de outras que não davam nada, isto é, saindo rápido das provas de resistência. E ao ser emparedado se contradisse, porque no banheiro disse: “se eu sair, quero que vc ganhe”. Mas quando foi vencido por Gleici na final, disse: “eu não disse que vc tinha que ganhar”. Não. Você não disse isso, Kaysar. Vc disse que se vc saísse antes, ela tinha que ganhar, mas não com vc na final. Pior, no jogo maratona BBB, Kaysar mostrou sua verdadeira face, a máscara de bom moço caiu, quando debochou de Airton, a ponto de Airton dizer: “eu estou vendo agora um outro Kaysar: debochado e arrogante.”

E o que dizer de Ana Clara? Uma menina linda, sem preconceitos, sem ares boçais, do tipo classe média que se acha burguesa. Uma menina solidária com os mais pobres e doentes. Não é à toa que faz seu papel social, visitando crianças doentes nos hospitais como doutora do sorriso. Ela e seu pai sim, mereciam o segundo lugar. Por sofrerem as maledicências da internet por causa de uma bitoca; pelo falso moralismo puritanista de muitos que chegaram a insinuar incesto entre os dois etc. Clara é tão bem resolvida, tão de bem com a vida, e agora que completou, digamos, a maioridade, vai longe no seu amadurecimento humano.

E para finalizar, BBB não é jogo para caricatos, gamers de internet, filósofos arrogantes, preconceituosos de classe, falsas princesas, estrategistas burros que só jogam para dentro da casa, esquecendo conquistar o público. BBB é um jogo de relação verdadeira de um com o outro. Um jogo de conquista de corações humanos. E Gleici não precisava falar muito para dizer quem era. Seu sorriso com olhar lacrimejante, sua voz suave e doce e sua expressão corporal por si só já falavam dela mesma. Venceu porque foi verdadeira, sem usar artifícios teatrais para se fazer visível no jogo. 

Ela não foi berro ou grito non sense, mas sorriso da alma que cativou o nosso amor e carinho por ela.

E assim a Simplicidade venceu o preconceito, o racismo e o ódio político-ideológico.