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Texto recebido de Shadow
em resposta ao post "Entrevista" de Frank Killer
10/12/2015


A FAZENDA8 E O RETRATO DE DORIAN GRAY

Nossa Frank, amei a entrevista, rssss....!!!

Creio que você pegou o espírito. Ao escrever cada comentário, o sentimento era esse: o de estar conversando com você.

Se quer saber, creio que o mais interessante desse reality ao longo destas semanas esteve aqui. Nos teus post sempre tão profundos e reflexivos; nos do Helder escritos com tanta perspectiva e paixão; e, nos da Bruna, recheados de uma sagacidade e humor, que são tão ela.

Porque se dependesse das imagens, cenas editadas, participantes, desempenho do apresentador e da direção... pouco ou quase nada haveria para se comentar, a não ser mais do mesmo: baixaria e sopapos, falta de transparência; fulano quebrou vasos e o cenário, falta de transparência; beltrano xingou cicrano, falta de transparência; o envelope da arca favoreceu a x e ferrou a y, falta de transparência; a prova não teve a mesma dificuldade para todos, falta de transparência; a votação surpreendeu, falta de transparência; o 24 horas saiu do ar, falta de transparência;.... Tem uma hora que a mesmice e o embuste cansam, não é mesmo?

Mas aqui, houve espaço para apesar disso, discutir de forma saudável sobre o reality e ir além.

Foi publicado aqui um post teu, Frank, de qualidade primorosa (publicado em 06/12 – “Jogo”):

Para serem saudáveis as pessoas, grandes ou pequenas, devem brincar como forma de entretenimento, como diversão, como distração e passatempo, não considerar isso como jogo, porque qualquer forma de jogo é viciante. Na etimologia, brincar e se divertir é uma atividade lúdica, não viciantes como jogo...”.

De fato, o saudável está no lúdico. E isso é algo que serve para qualquer reality, assim como para a vida. A questão é que com o passar do tempo, lentamente, acabamos esquecendo e deixando de brincar, tornando tudo mais cinzento, azedo e obscuro ao nosso redor.

Não consigo entender - por exemplo - o fanatismo de torcidas, que se organizam para hostilizar quem pensa diferente, sem se darem conta de que a truculência e xingamentos não faz ninguém mudar de opinião. Cada um tem o direito de ter a sua (opinião), respeitando a do outro, do contrário, passa a ser intransigência, quando deveria ser uma grande diversão; ou, a atitude daqueles que tem a responsabilidade de criar e fazer da atração um passatempo de qualidade (direção, produção,...) e de maneira irresponsável a empobrecem, porque a vendem e se vendem para atender a interesses outros, que não o de brincar com o público.

O Douglas é o vitorioso de AFazenda8. Mas em vários momentos, me fez desligar a TV. Quebrar vasos, microfones, vociferar insultos, agredir com ou sem motivo, definitivamente não é algo que me divirta ou que eu goste de assistir antes de ir dormir. Apesar disso, desejo que ele faça bom uso do prêmio, ou, que alguém o ajude a administrar, pensando até no filho que ele tem. Porque se não souber usar e administrar, uma hora vai acabar.

Por outro lado, em parte gostei do resultado, kkkkkk.... Como somos complexos, não Frank???

Quem diria que fosse afirmar isso!!! Não, não é apenas pelos tabefes que o garotão levou da Mara, acho que é mais pela atitude arrogante de “já ganhei” que a Ana Paula passou a ter a partir de suas alianças com a descompensada e o Luka e, segundo ela, da certeza que alguém da produção lhe deu, de que o prêmio estava no papo. Não vi. Mas parece que na “lavagem de roupa suja”, é o que ela teria dito na lata ao Justus. Mico, até no apagar das luzes!!!

Pena, a doçura e o jeito engraçado e desencanado da Ana Paula deram lugar ao jogo. Passou a pisar com salto agulha nos outros participantes, julgar e a desmerecer determinadas pessoas (que não queria estivessem na final com ela), fazendo isso buscando as lentes das câmeras, na vã tentativa de manipular a vontade do público, como quem diz: “vejam, a única merecedora dos dois milhões aqui, sou eu!”. Deixou de brincar... se perdeu e perdeu.

O mesmo se diga do Luka. Ao ser agraciado com a imunidade por várias semanas, e, ao invés de brincar de se divertir e de divertir, já que não corria risco de ir pra roça, resolveu mostrar que era o tal, o suprassumo do “bom jogador”, mordendo por trás e assoprando pela frente, para a final amargar míseros 0,52% dos votos. Sei não, dá a impressão de que alguns parentes e amigos da pessoa prefeririam não se comprometer... Não soube aproveitar a oportunidade, colocou o prêmio na frente antes de traçar a sua trajetória. Deu no que deu. Cometeu o mesmo erro da Ana Paula. Daí a importância do teu post, Frank.

Quanto à Mara, no ato final de sua dramática participação, me fez lembrar o “Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde. Quem não leu, fica a dica pra estas férias e, pule o próximo parágrafo, contém spoiler.

No epílogo, Dorian Gray decide destruir o último vestígio de sua consciência; enfurecido, pega a faca e apunhala o retrato, que nada mais era do que a imagem daquilo que ele gostaria de ser, mas não era e nunca foi.

Vi na motivação de Mara ao estapear o Douglas, a mesma motivação de Dorian Gray ao esfaquear o retrato. Lembremos que antes da festa, lá esteve a Xuxa, de quem a Mara não desgrudou um segundo sequer. Outra intromissão que não fez o menor sentido, a não ser o de alavancar a audiência da ex Rainha dos Baixinhos. Enfim... Ficaram ali grudadas, feito irmãs siamesas de mão dadas, como se os demais participantes não existissem. Tanto é que os mais inteligentes e sensatos, pegaram o amor próprio, lhes deram as costas e se afastaram formando um grupo à parte. Olhe Frank, se quer saber, eu no lugar deles teria feito o mesmo! Errou feio a Xuxa, ao dar atenção apenas à Mara e ao Ovelha. Mas, seguindo... Nesse encontro, Mara, assim como Dorian Gray, deve ter tido um vestígio de consciência: “Poderia ser eu no lugar dela”. E ato contínuo, seguiu-se a festa e, ali, quem estava? Douglas, com sua alegria descontraída, sorrindo, pulando feliz por ser um dos finalistas. Novamente a imagem daquilo que ela gostaria ter alcançado: “Poderia ser eu no lugar dele”. Irracional e enfurecida esbofeteou o rapaz. Vendo aquilo, pensei: ainda bem que não tinha uma faca por perto!!!

Realmente, quando se observa a vida no seu crisol de dor e de prazeres, não é possível cobrir o rosto com uma máscara de vidro nem impedir que os vapores sulfurosos nos ofusquem o cérebro e nos turvem a imaginação com fantasias monstruosas e sonhos disformes. Há venenos tão sutis que, para os conhecer, cumpre experimentá-los. Há males tão estranhos que, para lhes entender a natureza, é preciso contraí-los...” (O Retrato de Dorian Gray).

O lado lúdico da vida é esse, saber pincelar o próprio retrato com seus prazeres, fantasias, sonhos, venenos e males.

Desejo para a Mara mais leveza e força para lidar com a sua própria imagem. Viver não é fazer morada no passado, no sucesso que se teve, na juventude que se apagou. Afinal, “não é possível cobrir o rosto com uma máscara de vidro”, isso só corrói e envenena, e a máscara sempre pode trincar.

Um abração amigos queridos. Até a próxima!!!

Shadow