Por Helder Miranda
Em outubro de 2015

Li Martins não agrediu, apenas desrespeitou Mara Maravilha. Mara não agrediu, apenas desrespeitou a maioria do elenco da oitava edição de “A Fazenda”. Como distinguir entre certo e errado em um jogo em que estão todos quites nessa odisseia desrespeitosa que a emissora promove para a audiência começar a enxergar como normal os mais acintosos absurdos? 

Nas redes sociais o povo se manifesta e há, mais uma vez, esse discurso de “expulsão” que vem tomando conta do reality, com razão. Mas essa temporada degringolou a partir do momento em que Rebecca bagunçou as coisas de Mara e se apropriou das fotos dela, sem ter qualquer punição. Ao contrário, teve a conivência de uma emissora que quis passar o que houve como uma simples "estripulia" quando, na verdade, foi "roubo". Rebecca deveria ter sido expulsa, sim. 

Bem como Thiago, que deveria ter saído com expulsão, não como um desistente, assim como Douglas, que deveria ter ido embora pelas imagens que não foram mostradas e nunca saberemos ao certo o que aconteceu. O que houve na ocasião? Imagens sendo mostradas repetidamente com a declaração de Rebecca afirmando "estar bêbada". Então, por estar embriagada, a culpa é da mulher "embriagada"? 

Partindo dessa premissa, Li sujou a cara de Mara Maravilha com barro à contragosto dela (veja que absurdo está nessa narrativa) e eu também considero um tipo de agressão que vai além da física, isso é agressão moral a determinada personalidade com vários anos de carreira. Li está errada? Óbvio que está! Mas não chega nem perto dos empurrões que foram desferidos por Douglas a Thiago, J.P. e Rebecca. Logo, essa regra de “expulsar” os participantes, se fosse levada à risca, deveria ter sido aplicada a todos eles, e até à Mara Maravilha, que se igualou ao patamar de Rebecca quando colocou o boné do J.P. no esterco de cavalo. Eu quero regra para todos e, se não tiver para todos, eu quero regra para nenhum.

Então, aproveitando-se, a partir dos exemplos anteriores de um programa sem regra nenhuma, Li fez com Mara Maravilha o que muitos não tiveram peito, dentro e fora da casa: justiça com as próprias mãos. E, ao fazer isso, cá entre nós, ela subiu muito no meu conceito, porque ao mesmo tempo em que desestabilizou Mara do alto de sua prepotência, demonstrou que não tem medo da força de uma possível torcida da ex-apresentadora infantil e atual cantora gospel.

Os desentendimentos são forçados pela própria produção da emissora. A atividade da baia era construir um forno de pizza, e Mara fez o possível e o impossível para desestabilizar os dois companheiros de exílio: Li e J.P. Quem viu a transmissão ao vivo, sabia que a atividade só poderia dar em confusão.
Não se sabia se Mara, na maior parte do tempo, estava brigando ou de fato brincando com Marcelo Bimbi, que estava lá, mas não poderia ajudar, e com J.P. e Li. A ex-"Rouge" levantou essa lebre de que nunca sabia quando Mara estava brincando ou, de fato, brincando. 

Mas as indiretas de Mara para a moça casada que está tendo um caso com um colega de confinamento correram soltas. Para Li, uma moça aparentemente educada, explodir daquele jeito, tudo sinalizava que ela estava em seu limite, o que levou a cantora a esfregar o barro no rosto da ex-apresentadora infantil. O ato de Li, errado, obviamente, representou uma espécie de catarse coletiva entre os participantes que sofreram com o temperamento de Mara maravilha e da própria torcida contrária. A discussão aqui fora é se isso é passível de expulsão ou se é certo ou errado o que foi feito. Mas não cabe mais ao telespectador, porque tudo é permitido. E, se for para alguém sair, que saíssem todos que cometeram irregularidades ao longo desta oitava temporada.

Acredito, porém, que Mara movimenta esta edição que, sem ela, tudo estaria um marasmo. Mara é a mocinha, a vilã e a personagem agente desse espetáculo decadente, e sabe como ninguém captar todas as atenções, todos os assuntos, todas as torcidas favoráveis ou contrárias. É a catalizadora do bem e do mal de "A Fazenda 8" e nunca ninguém soube, como ela, mobilizar tanto, seja para amá-la (nenhum lá dentro e muitos aqui fora) e odiá-la (praticamente todos lá dentro e muitos aqui fora). Hoje, se você me perguntar se Mara merece ganhar, eu diria que não... porque não há argumentos que possam defendê-la com precisão. 

O máximo que pode ser dito em defesa de Mara Maravilha é que ela está no jogo inteira e exposta, mostrando a torto e a direita todos os defeitos que tem. Mas mostrar defeitos com tanta abundância não torna ninguém o vencedor de um reality-show, pelo contrário.E há em todos nós, espectadores desse jogo para fora que Mara vem fazendo desde o início uma espécie de sadismo e uma atração pelo bizarro, pelo rir do ridículo, pela contentação em ver alguém fazendo o que não se tem coragem de fazer. 

Mas é só, porque se for para falar em desprendimento, Li é despudoramente mais livre na medida em que se entrega ao homem que escolheu dentro do confinamento. Para isso, e não acredito que para fazer uma história, pois muito provavelmente perdeu um casamento de dez anos, ela arriscou muito, principalmente a reputação, o bem mais precioso de todos, quanto mais em um programa em que se julga e é julgado o tempo todo em uma espécie de apedrejamento coletivo.

Diante da mulher infiel, Jesus já disse: "quem nunca teve pecado, atire a primeira pedra". Li, cá entre nós, é livre para fazer o que quiser com o corpo dela e sabe que terá de enfrentar as consequências disso em certo momento. Ela já foi vítima da maledicência de Thiago, que não hesitava em questionar a atitude dela - como dormir fora da cama quando o caso ainda não estava assumido - para colocá-la em má situação diante das câmeras. Luka também segue a mesma premissa em seu jogo de deteriorar as atitudes dos oponentes e ser uma metralhadora de um em uma semana, de outro na próxima e, com isso, deixar de ser foco na maioria das vezes. 

Li não teve jogo de cintura para confrontar quem jogava com a fragilidade da situação em que ela divide com J.P., um assunto que foi tratado com irresponsabilidade para o público, inclusive pela própria Mara Maravilha, e pela emissora, que deveria proteger os participantes de confinamento, não incitar ainda mais o público em troca da polêmica barata que pode reverberar em audiência-não-garantida.

Li e J.P. vivem uma situação extremamente delicada que diz respeito ao casal e ao marido dela, mas, como isso foi exposto dentro do programa, o público se sente no direito, embora não tenha, de dizer se ela está certa ou errada: muitos fazem pior, a diferença é que estão longe das câmeras...