03 outubro 2013

Helder Miranda Comenta:
A filosofia de boteco e os robozinhos de Justus


A filosofia de boteco
e os robozinhos de Justus

Participar de “O Aprendiz” é um jogo de perder. Nele, deve se estar disposto a passar a perna ou receber uma rasteira. Como em qualquer reality show, mas este é mais. Eu fico me perguntando por que 16 participantes, que passaram pelas salas de reuniões com Roberto Justus e já foram demitidos toparam voltar para o mais do mesmo circo de horrores que ele fará em mais uma edição. Como é um reality corporativo, sabe-se que nenhuma das participantes irá posar nua ou tentar uma carreira de celebridade de segunda linha.

E o que move essas pessoas a quererem trabalhar com uma pessoa que, pelo menos diante das câmeras, é mil vezes pior que aquele chefe tirano que dá ojeriza só de olhar? Ainda fico me perguntando como nunca saiu nenhuma agressão física, ou como nenhum participante, desestabilizado com tanta humilhação, nunca mandou Justus à merda e o deixou falando sozinho.

“Acredito que o segredo para ganhar este programa... é o trabalho em equipe”, disse Viviane Ventura, a vencedora da primeira edição. Mas como ganhar um programa que, em determinado momento, você terá de pisar em alguém, e sair com a consciência tranquila? O que move esses participantes é a ganância. Porque trabalhar com Roberto Justus, desculpem, mesmo tendo o salário que for, não é absolutamente o sonho de infância de ninguém. “Aguenta a porrada que ele vem, e o Roberto é bom nisso, ele vai dar porrada, haha”, disse Clodoaldo Araújo, o apático vencedor da 5ª edição, num riso forçado.

Evandro Banzato, participante da segunda edição, na época um dos queridinhos de Justus que só saiu por problemas de relacionamento em equipe, promete dar trabalho. “Estou entusiasmado!”, disse. Mas a impressão que me passa em relação a essa série de engravatados e mulheres de terninhos é que há um bando de gente por metro quadrado querendo mostrar serviço. O problema é que todos, absolutamente todos, são superestimados. Como o próprio Justus, que tem uma dicção boa e acha que tem o rei na barriga.

Melina Konstadinidis, participante da segunda edição, queria a liderança. Como perdeu no par ou ímpar para Maura Barreto, da quinta edição e primeira eliminada desta nona, ficou de biquinho o programa inteiro, colocando defeitos na liderança da outra. Como quem quer dizer que, se assumisse a primeira liderança, as coisas seriam diferentes. Não, não seriam, mas colocar defeitos no calcanhar de Aquiles do concorrente é a premissa básica de quem entra numa competição para vencer.  Dividiram as equipes em “Flecha” (homens) e “Sinergia” (mulheres).

E preste atenção no vocabulário de todos eles “meta”, “foco”, “resultados”, são robozinhos, exatamente aos daquela turma que quer se fazer de competente em uma empresa. As mulheres assumiram – da boca pra fora, como foi dito na sala de reuniões – uma meta de R$ 100 mil reais, para mostrar ao futuro-quase-patrão que são ambiciosas. Claro que levaram a pior, nesta primeira prova, embora Karina Ribeiro, a injustiçada da sexta edição, que levou o segundo lugar, se mostrou mais ponderada. Daniely Zanotti, como parte de sua estratégia de defesa já durante a realização da prova, dizia que a líder precisava de foco. Gente que se esconde atrás de outras, com medo do bicho-papão. 

Os homens estão com sangue nos olhos, e me surpreenderia muito se um homem, nesta edição, não levarem a bolada e o fardo do emprego do salário de seis dígitos. Eu preferiria ser feliz. Mas Guilherme Séder, demitido da segunda edição, não concordou com a estratégia adotada, embora o seu grupo tenha saído vencedor, e tudo tenha ficado consigo mesmo.

Eliminada do primeiro episódio, Maura Barreto, após ouvir acusações de Melina e Daniely, deu seu depoimento. “São profissionais sênior, não tem ninguém aqui que é trainee, não”. Sim, até em realities corporativos há certa dose de humor. “Na vida não basta ser melhor para ganhar”. “O bom é inimigo do ótimo”, responde uma das participantes fazendo referência às frases de impacto da filosofia de Justus. Troca de acusações, constatação de que as mulheres, em vez de ser um grupo, competiram entre si. A líder, eliminada em sua edição na prova em que foi líder, volta para casa, com a certeza de que não volta para outra edição. Cometendo o mesmo erro de fraquejar na liderança.

Eu fico me perguntando se, para trabalhar com Roberto Justus, será preciso abdicar de tudo, ficar à inteira disposição, pajeá-lo quando ele bem entender. Ele paga, e paga bem. Mas tudo tem o seu preço, mesmo? Esta edição, com ex-participantes, só se justificaria se Justus assumisse que, ao longo desses anos de tirania à frente do programa, tivesse cometido uma grande injustiça. Óbvio que ele nunca iria assumir, então, “O Aprendiz – O Retorno”, já começou errado. Aliás, como se trata de todos participantes eliminados, no final, quem o apresentador vai escolher? O melhor entre todos os perdedores? 


Helder Miranda@senhorhelder
Formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), e pós-graduado em "Mídia, Informação e Cultura", na USP (Universidade de São Paulo), Helder Miranda é jornalista, atua como editor do site cultural www.resenhando.com e também como repórter de outros veículos de comunicação. Foi redator de press-releases da Globo Livros, da DCL - Difusão Cultural do Livro, coordenador de redes sociais do selo editorial Tordesilhas e resenhista de literatura no Portal IG. Atualmente, também é estudante de Letras na UniSantos. 



10 comentários:

  1. Parabens Votalhada por tão brilhante aquisição. A abrangência dos programas e o alto nivel dos comentaristas realmente vai fazer com que o blog suba para patamares mais altos e tenha reconhecido de fato seu propósito de informação.

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  2. Helder, lembra-se do participante Peter Collins, da terceira edição, que demitiu o Justus? Foi uma cena histórica!!

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    1. Lembro! Achei fantástico. Só não gostei do participante se desculpar depois.

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  3. Embevecida com o post. Leitura perfeita. Na minha opinião o Justus é asqueroso. E pensar que existem pessoas,sem um mínimo de amor próprio, que aceitam todo tipo de humilhação para trabalhar com um cabra chamado Roberto Justus Assédio Moral da Silva.
    Parabéns
    Maria Clara

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  4. Praticamente acompanho o Votalhada desde o início e a cada dia que passa me surpreendo positivamente.
    A nova aquisição do Blog, Helder Miranda, escreve claramente suas opiniões facilitando muito a compreenção do que pretende passar.
    Já não passo um dia sem entrar pelo menos umas duas vezes por aqui, agora vou ter que aumentar essas visitas!
    Mais um que se junta a outros comentaristas excelentes.
    Sucesso.

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  5. O grande lance da internet é a qualidade de determinados blogs que nos trazem informações verídicas e objetivas. Procurar algo na net é fácil. Difícil é achar algo de qualidade. Dentre muitos o Votalhada destaca-se de longe.
    Some tudo isso com a excelência dos comentaristas. Basta ver o cacife dessa turma e você tem a certeza que voltará pra ver o próximo comentário.

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  6. Cinco milhões pra já, Luís.

    E os dez milhões em muito breve.

    Abraço!

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    1. E não é? Quem diria... Isso mostra no contador do próprio Blogger.
      Já o Google Analytics aponta, agora, 8.058.376 visualizações...
      Acho que essa é mais correta... Mas não tem como mostrar isso no blog. Bem que eles podiam criar um app pra isso.
      Saudade dos teus comentários. Abraço.

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  7. "Como é um reality corporativo, sabe-se que nenhuma das participantes irá posar nua ou tentar uma carreira de celebridade de segunda linha."

    Só até a pág 10.... A namorada do justus (Ana Paula Siebert), é ex aprendiz e depois de ter participado do programa passou a trabalhar como modelo.

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